Legado

A morte nos espera. Ainda que a alma seja imortal, o corpo certamente é mortal. O organismo humano está programado para se deteriorar até voltar ao pó. Um dia, se tudo ocorrer conforme a natureza, não haverá sob e sobre a terra uma única célula viva daquilo que se pode chamar de “restos mortais”. Até nossos restos serão consumidos; consumidos pelos vermes e pelo tempo até nada restar.

Cabe perguntar: diante do túmulo frio da morte, o quê você tem feito com sua vida? Há alguma chama para além do sangue quente de mamífero? Há algo além da mera existência biológica pulsando no íntimo do seu ser?

Os antigos, sobretudo os gregos e romanos, se preocupavam com seu legado. Legado é uma espécie de bagagem espiritual que fica entre os vivos e que, ao mesmo tempo, vai com o morto: quando alguém dá o seu melhor nesta vida, ele beneficia a vida de quem fica aqui; mas também ele próprio se beneficia na Vida Eterna. Em I Coríntios 3:14, está escrito: “Se o que alguém construiu permanecer, esse receberá recompensa.”

Não deixar um legado é viver em vão. Ou melhor: não deixar um legado é não viver. É não viver dignamente de quem nos propiciou a existência. Nós somos os frutos de milênios de esforço humano. Do primeiro homem aos nossos avós e pais, acumulamos a energia criadora de milhões de outros indivíduos que nos antecedem. Gerações de empenho e dedicação inimagináveis nos trouxeram até aqui-e-agora. Já percebeu que somos os descendentes dos sobreviventes? Já notou que somos a prole de uma ancestralidade que não sucumbiu às guerras de caverna, às glaciações, às pestes, enfim, a todo e cada um dos incontáveis embates e conflitos que a Humanidade tem experimentado desde que o homo sapiens se tornou Adão e Eva?

Pois é... O mínimo do mínimo que devemos aos nossos avoengos é empurrar a grande pedra adiante, é rolar o granito de Atlas e ser um pouquinho melhor. Devemos isto aos nossos ascendentes do passado porquê também somos devedores dos nossos eventuais descendentes do futuro. Há uma chama a ser passada -- a tocha da humanidade consciente de suas responsabilidades para com sua espécie e para com seu Deus. Então, não seria muito melhor sermos mais, muito mais, positivamente relevantes, dando o máximo do máximo?

Você quer apenas existir, arrastando uma carcaça primata desde o dia em que alguém disse “ele(a) nasceu”? Você quer ter sua passagem por esta dimensão restrita às pegadas do bipedismo acidental? Não lhe parece mais nobre ir além, nadando contra a maré dos espermatozoides que vingaram fisicamente mas que metafisicamente são apenas uma multidão destinada à vala dos “sete palmos” no cemitério municipal? Não lhe parece mais elevado alcançar o topo das virtudes, das capacidades e dos talentos que o Céu nos fez presente nesta viagem pelo planeta?

Não desperdice sua vida.

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor