Justiça brutal

A dupla de detetives Brett Ridgeman (Mel Gibson) e Anthony Lurasetti (Vince Vaughn) é afastada da polícia por torturar um indivíduo envolvido com o tráfico de drogas. O vídeo da violência cometida por eles viraliza, e os dois, logo depois, são demitidos da corporação. Sem emprego, mudam de lado, vão para o crime, roubando, a mão armada, dinheiro de assaltos cometidos por bandidos. Até que se deparam com uma perigosa organização munida de fuzis e armamento pesado.

O controverso cineasta S. Craig Zahler, do qual falamos semanas atrás quando resenhei sobre seu primeiro filme, o western com terror ‘Rastro de maldade’ (2015), trata nesse seu último longa-metragem a violência policial nos Estados Unidos. Seu cinema é forte, com cenas que chocam pelo grau de violência, em que ele não mede o senso – o anterior, ‘Confronto no pavilhão 99’, de 2017, é o mais cruel e sanguinário das três obras do diretor. Em ‘Justiça brutal’, dois detetives mão pesada praticam atos criminosos escondidos, até serem filmados por um anônimo e demitidos da corporação. Eles mudam de lado, roubando grandes quantias de assaltantes, até se depararem com um inimigo perigosíssimo. Nada caminha bem para eles, assim como em todas as obras do diretor – os personagens costumam ter um desfecho trágico, não há nem redenção nem final feliz. A moral dos personagens, e a do filme em si, é sempre duvidosa – justiça com as próprias mãos, justiça a qualquer preço, violência para conter violência, morte a bandidos independente do que fizeram. Mel Gibson e Vince Vaughn interpretam a dupla principal, um é tão corrompido quanto o outro, e juntos se entendem, forjando provas e cometendo delitos.

O filme recebeu uma chuva de comentários negativos, já que os personagens são racistas e preconceituosos, e matam sem dó - numa das sequencias um dos bandidos explode o rosto de uma mulher no banco, com um tiro. Tanto que recebeu uma indicação ao Razzie, o ‘Framboesa de Ouro’, prêmio dado aos piores do ano, numa categoria criada para o filme, chamada de ‘Desprezo pela humanidade’.

Para assistir, é necessário conhecer o cinema de Zahler e ter nervos fortes. É um diretor duro na queda, brutal, que costuma chocar. Outro ponto que é estranho em seu cinema é o humor infame, com piadinhas toscas que ‘quebram’ o impacto das cenas mais violentas.

Aqui ele aproveita parte do elenco do filme anterior, ‘Confronto no pavilhão 99’, como Vince Vaugh, agora como coadjuvante, Jennifer Carpenter, Udo Kier e Don Johnson. Foi o maior orçamento do diretor, US$ 15 milhões, que realiza filmes baratos – mesmo assim, custando pouco, teve uma divulgação irrisória, e ninguém assistiu na época.

Exibido no Festival de Veneza, tem uma duração longa, de 158 minutos, mais um alerta para o público específico. Foi distribuído no Brasil pelo Amazon Prime Video, disponível no streaming para assinantes.

Justiça brutal (Dragged across concrete). EUA/Canadá/Reino Unido, 2018, 158 minutos. Ação/Drama. Colorido. Dirigido por S. Craig Zahler. Distribuição: Amazon Prime Video

Autor

Felipe Brida
Jornalista e Crítico de Cinema. Professor de Comunicação e Artes no Imes, Fatec e Senac Catanduva