José Lins do Rego em Catanduva

 

Considerado, ao lado de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo e Jorge Amado, um dos maiores romancistas regionalistas da literatura brasileira, José Lins do Rego já foi chamado de “o último contador de histórias” e figura entre os maiores escritores do Brasil.

Seu romance de estreia, Menino de Engenho (1932), foi publicado com dificuldade, todavia foi logo elogiado pela crítica da época.

José Lins escreveu cinco livros a que nomeou “Ciclo da cana-de-açúcar”, numa referência ao papel que nele ocupa a decadência do engenho açucareiro nordestino, visto de modo cada vez menos nostálgico e mais realista pelo autor: Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933), Banguê (1934), O Moleque Ricardo (1935) e Usina (1936).

Nascido na cidade de Pilar, na Paraíba, em 03 de junho de 1901, José Lins tinha antepassados que eram, em grande parte, senhores de engenho, e proporcionaram ao garoto a riqueza do engenho de açúcar que lhe ocupou toda a infância. Seu contato com o mundo rural do Nordeste lhe deu a oportunidade de relatar suas experiências através dos personagens de seus primeiros romances.

É atribuído a José Lins do Rego a invenção de um novo romance moderno brasileiro. O conjunto de sua obra é um marco histórico na literatura regionalista por representar o declínio do Nordeste canavieiro. Alguns críticos acreditam que o autor ajudou a construir uma nova forma de escrever, fundada na obtenção de um ritmo oral, que foi tornada possível pela liberdade conquistada e praticada pelos modernistas de 1922.

Vida e Obra

Nascido no Engenho Corredor, município paraibano de Pilar, filho de João do Rego Cavalcanti e de Amélia Lins Cavalcanti, que acabou sendo morta pelo marido esquizofrênico, José Lins fez as primeiras letras no Colégio de Itabaiana, no Instituto N. S. do Carmo e no Colégio Diocesano Pio X na então cidade atual de João Pessoa, indo, posteriormente, estudar na cidade de Recife.

Desde esses tempos de colégio, já se via no menino grande desejo pela leitura dos clássicos literários, como O Ateneu, de Raul Pompeia, e Dom Casmurro, de Machado de Assis.

Além disso, desde a infância já trazia consigo outras raízes do sangue e da terra, que vinham de seus pais, passando de geração a geração por outros homens e mulheres sempre ligados ao mundo rural do Nordeste açucareiro, às senzalas e aos negros rebanhos humanos que foi se formando.

Em 1920, matriculou-se no curso de Direito, na cidade de Recife, onde passou a colaborar periodicamente com o Jornal do Recife, e acabou fazendo amizade com Gilberto Freyre, que atreves de sua influência, contribuiu para que, em 1922, José Lins do Rego fundasse o semanário Dom Casmurro.

Durante o curso, ampliou seus contatos com o meio literário pernambucano, tornando-se amigo de José Américo de Almeida, Osório Borba, Luís Delgado, Aníbal Fernandes, e outros. Gilberto Freyre, voltando em 1923 de uma longa temporada de estudos universitários nos Estados Unidos, marcou uma nova fase de influências no espírito de José Lins, através das ideias novas sobre a formação social brasileira.

Ingressou no Ministério Público como promotor em Manhuaçu, em 1925, mas no ano seguinte transferiu-se para a capital de Alagoas, onde passou a exercer as funções de fiscal de bancos, até 1930, e fiscal de consumo, de 1931 a 1935.

Em Maceió, tornou-se colaborador do Jornal de Alagoas e passou a fazer parte do grupo de Graciliano RamosRachel de QueirozAurélio Buarque de HolandaJorge de Lima, Valdemar Cavalcanti, Aloísio Branco, Carlos Paurílio e outros. Ali publicou o seu primeiro livro, Menino de Engenho (1932), chave de uma obra que se revelou de importância fundamental na história do moderno romance brasileiro.

Daí em diante a obra de Zélins, como era chamado, não conheceu interrupções: publicou romances, um volume de memórias, livros de viagem, de conferências e de crônicas.

Em 1935, mudou-se para o Rio de Janeiro e continuou sendo o homem ativo que sempre foi, até falecer no ano de 1957, na então capital do Brasil.

Seus livros foram adaptados para o cinema e traduzidos para muitos países, como Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, entre outros.

José Lins em Catanduva

Proprietário de uma grande intelectualidade e inteligência, José Lins do Rego esteve em Catanduva, discursando no dia 1º de abril de 1944, no antigo Clube 7 de Setembro.

De acordo com o “Catanduva-Jornal”, de 1º de abril de 1944, este trazia a seguinte notícia: “Conforme vimos noticiando, José Lins do Rego, o consagrado escritor patrício, está visitando Catanduva. Hoje, às 20 horas, no Clube 7, o ilustre intelectual fará uma conferência, abordando o interessante tema: O sentido de humor nos nordestinos”.

O evento contou com o patrocínio de diversos órgãos de nossa cidade, bem como a ajuda da Prefeitura Municipal de Catanduva, através do prefeito municipal Silvio Salles.

Às 12:30 daquele dia, foi oferecido um almoço para o consagrado escritor pela Comissão de Esportes, já que José Lins fazia parte do Conselho Nacional do Esporte, no Café da Esquina, local muito utilizado para encontros importantes em épocas passadas.

Neste almoço encontraram-se presentes: Silvio Salles, prefeito municipal; Antonio Stocco, presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Catanduva e do Aero Clube; Dr. Athos Procópio de Oliveira, Foriano Lima, Dr. Ítalo Záccaro e Carlos Machado, da Comissão de Esportes; Antonio de Rosis, presidente do Guarani Futebol Clube; Januário Pellegrino, Presidente do Cruzeiro Cestobol Clube; professor Nelson Musa, presidente do Ciclo Clube; Ruy Barbosa de Campos, da Folha do Povo; Dr. Sebastião Basto, Camerino Alves Monteiro, Ary Alves Camargo, Antonio Ribeiro dos Santos, Rubens Bueno, da XYZD 5, Companhia Agrícola Irmãos Zancaner; Dr. Henrique Smith, Dr. Octacílio Lopes, Dr. Raul Tarsitano, Clube de Tênis Catanduva; José Fernandes e “A Cidade”.

A apresentação de José Lins do Rego à população durante a conferência ficou a cargo do Dr. Christovam Fernandes Júnior, talentoso advogado do nosso Foro.

Fonte de Pesquisa:

 - “Catanduva-Jornal”, de 1º de abril de 1944.

Material consultado no Centro Cultural e Histórico Padre Albino

Fotos:

 

José Lins do Rego é considerado, ao lado de outras figuras nacionais, como um dos maiores romancistas regionalistas da literatura brasileira, focando muito a temática dos canaviais nordestinos em suas obras

 

 

 

José Lins escreveu cinco livros a que nomeou “Ciclo da cana-de-açúcar”, numa referência ao papel que nele ocupa a decadência do engenho açucareiro nordestino. Menino do Engenho é o primeiro livro da coleção e também o primeiro livro escrito por José Lins do Rego, em 1932

 

 

 

Quando ingressou no curso de Direito, em 1920, na cidade de Recife, José Lins do Rego (direita) aproximou-se muito de Gilberto Freyre (esquerda), um dos maiores pesquisadores da sociedade brasileira

 

 

Em 1º de abril de 1944, José Lins do Rego esteve apresentando uma conferência em Catanduva, no Clube 7 de Setembro, antigo prédio que se localizava na esquina das ruas Brasil e Paraíba. Nesta foto, o clube em 14 de abril de 1918, dia da instalação do município de Catanduva 

 

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.