“Inventei asas de voar”

O mais terrível dos sentimentos é o sentimento de ter a esperança perdida”. 

 Federico García Lorca 

 

Um dos mais viscerais poetas e dramaturgos espanhóis, Federico García Lorca nasceu em Fuente Vaqueros, uma pequena localidade de Granada, no sul da Espanha, em 5 de junho de 1898. 

Foi executado em agosto de 1936, provavelmente no dia 18 daquele mês, após ser preso, interrogado e torturado durante a Guerra Civil Espanhola, tornando-se uma das primeiras vítimas da revolução imposta pelo general Francisco Franco e que dizimou milhares e milhares de vidas, começando por jornalistas, intelectuais, artistas, educadores.

Lorca era, sem dúvida uma das mais respeitadas personalidades do país e por isso, sua prisão e execução foi envolvida em uma série de informações desencontradas porque ele era extremamente admirado pela sociedade espanhola e amado pelos jovens e crianças. Seu desaparecimento foi encoberto e as provas materiais de sua morte ocultadas e eliminadas. 

Tudo isso acima citado é fato, é história.  

Também faz parte da história e nada poderá isso apagar, é que sua obra permaneceu como uma das inspiradoras para jovens artistas, sejam atores, diretores, dramaturgos, poetas ou músicos. 

Autor de imortais poemas e peças de teatro como Romacero Gitano, Poeta em Nova Iorque ou sua espetacular trilogia Bodas de Sangue, Yerma e A Casa de Bernarda Alba, entre muitos outros, García Lorca teve uma produção extraordinária num curto período de vida. Foram apenas 38 anos de vida e um legado que de “maldito” pela definição de Franco e libertador pela conceituação de seus milhões de admiradores, passou por todos gêneros literários e artísticos, estabelecendo-se como um dos mais potentes e importantes de todos os tempos. 

Explícita em sua obra telúrica, que falava de Granada, de sua origem e natureza andaluza, cigana e da própria alma espanhola, Federico García Lorca, o poeta da Lua, toca profundamente e principalmente os corações jovens e livres. 

Nós, da Cia da Casa Amarela, de Catanduva, tivemos a honra e alegria de produzir uma peça em sua homenagem, A Lua e o Poeta, que está há nada menos que 17 anos em cartaz, com inúmeros prêmios, aclamada pela crítica especializada que a definiu como “um corajoso espetáculo para jovens”, e que emociona o público onde quer que seja apresentada, seja em teatros, escolas, espaços culturais alternativos, unidades do Sesc etc., porque é um sopro de esperança e de liberdade que inspira e faz acreditar num mundo melhor, onde a poesia vence a guerra, onde a flor é mais poderosa que a violência, onde a Arte se sobrepõe à ignorância. 

Não é isso o que estamos procurando, ardentemente, em nossos dias? A possibilidade da vida livre? E será sempre o artista que virá cantar ou declamar, dançar ou pintar, interpretar ou soltar seu grito de esperança, porque quando ela se esvai, a própria vida acaba. O mais terrível sentimento, dizia Lorca: perder a esperança. 

Por isso, magistralmente, o poeta espanhol cantou em versos: “eu inventei asas de voar”! 

Assim continuamos trabalhando com crianças e jovens, semeando asas... Mais que necessário e urgente! Como sempre foi.  

No entanto, em tempos difíceis de dúvidas e exacerbado cultivo do ódio, é preciso plantar a semente do encantamento, da poesia, da emoção, da sensibilidade, da inteligência, de dias melhores onde crianças, jovens e todos nós possamos correr livres, voarmos, num país em que a Arte seja prioridade, seja essencial e ganhe um olhar diferenciado através de políticas culturais que fomentem, verdadeiramente, o melhor do seu povo, de sua criatividade e de seus sonhos.

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.