Instinto animal

É possível ver os impactos negativos que a pandemia trouxe em todos os aspectos da vida humana, as relações sociais tornaram frágeis, em alguns casos, até insustentáveis. Embora seja uma característica humana a necessidade de estar em sociedade, esta consiste numa pluralidade de ideias e comportamentos que se viu, de uma hora para outra, resumida numa microssociedade onde apenas um ou outro ponto de vista imperava. 

A partir disso, muitos problemas envolvendo a dialética de ideias e poderes exercidos em casa que resultaram em muitos relacionamentos chegando ao fim, como apontam os estudos ao trazerem a notícia que, em 2021, o Brasil bateu o recorde de divórcios. 

Outros dados que deixaram ainda mais nefasta a face pandêmica da humanidade foi o aumento da violência contra a mulher e o aumento de abuso infantil. A casa parecia ser o local mais seguro, não para estas crescentes vítimas que hoje amargaram o medo em seu próprio lar e que trarão para seu psiquismo dados que podem ser irreparáveis. 

Não somente estes horrores que a pandemia trouxe, o que em si, já é grave demais, mas afetou também como as interrelações ficaram fragilizadas, revelando o quão abalados estamos para quaisquer assuntos. Discussões aparentemente brandas e despretensiosas reverberam em ofensas, agressões verbais e físicas. Não fomos apenas acometidos pelo medo de perder a vida ou de perder algum ente querido pela doença, recebemos uma facada lancinante naquilo que de mais importante tínhamos, que é a capacidade de raciocinar.  

Deixamos com que os impulsos mais primitivos tomassem conta e que estes arroubos de raiva fossem as respostas mais diretas e assertivas, quando na verdade, apenas ressalta a animosidade que a raça humana, ao longo de tantos séculos tentou abrandar. Retornamos a um momento antes da hominização e talvez levemos muito tempo para compreendermos o caminho do convívio ético em sociedade, que em suma, não é a plena aceitação de um determinado ponto de vista, mas sim, discordar e argumentar no campo da moral, sem agressões ou cala bocas.  

Mas para isso, é necessário compreender que a relação entre os homens não pode ser galgada na assimetria de poderes, pois assim, será apenas o dominador sobre o dominado, mais uma vez, revelando a face da crueldade humana na louca tentativa de dominar o outro, ao invés de dominar suas próprias mazelas.

Autor

Eduardo Benetti
Professor Recreacionista em Catanduva