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Recentemente, remexendo nos meus discos de vinil, topei com alguns álbuns etiquetados simplesmente como “1984”. Eu estava na faculdade. Morava sozinho. A televisão estava quebrada há muito tempo e assim ficou por mais cinco anos. As Lojas Americanas faziam saldões de onde eu saia carregado de discos. Por falta de espaço, tempos depois comecei a comprar os CDs. Lembrando que no Brasil não existiam computadores domésticos nem internet nem celular. Sorte a minha. Foi uma das fases da minha vida em que eu mais escutei música.
Da parte dos roqueiros nacionais, Raul Seixas lançou seu maior sucesso: “Gita”. Os Titãs tocavam “Sonífera ilha”. Os Paralamas do Sucesso, uma música que eu achava esquisita: “Óculos”. Tinham também “Meu erro”. O Ultraje a Rigor, “Inútil”. O irreverente Eduardo Dusek, “Brega chique”. O Barão Vermelho, ainda contando com Cazuza, tocava “Bete Balanço”. O conjunto Sempre Livre tocava “Eu sou free”. A banda Rádio Táxi, lançou um clássico: “Eva”. A banda Magazine, do Kid Vinil, lançou a engraçada “Tic tic nervoso”. A Blitz, “Betty Frígida”.
Da MPB o Kid Abelha tocava “Como eu quero”, “Fixação”, “Por que não eu” e “Nada tanto assim”. Djavan, “Esquinas” e “Lilás”. Marina Lima, “Fullgas” e “Veneno”. Vinicius Cantuária, “Só você”. Ângela Ro Ro, “Fogueira”. Lobão, ainda fazia parte do conjunto “Lobão e os Ronaldos”. Lançaram “Me chama”. Guilherme Arantes lançou uma música curiosa e surpreendente: “Xixi nas estrelas”. Gonzaguinha lançou “Lindo lago do amor”. O conjunto 14 Bis lançou “Linda Juventude”. Lulu Santos, “Certas coisas” e “Tudo azul”. Ritchie, “Mulher invisível”. O Premeditando o Breque lançou “Pinga com limão”. Toquinho, “Ao que vai chegar”. João Bosco, “Papel machê”. Ney Matogrosso, “Vereda tropical”. Sandra de Sá, “Férias de verão” e o clássico “Enredo do meu samba”.
Do samba veio Chico Buarque, “Vai passar”, hino das “Diretas Já”. Agepê estourava com “Deixa eu te amar”. Beth Carvalho com “Toque de Malícia”. Do gênero “água com açúcar” o Rei Roberto Carlos tocava “Caminhoneiro”. Joanna fazia sucesso com “Recado”, mais conhecida como “Meu namorado”. Biafra gravou seu maior sucesso: “Sonho de Ícaro”. Beto Guedes lançou “Quando te vi”. Fafá de Belém, “Você em minha vida”. Do gênero infantil, a Turma do Balão Mágico lançou “O baile dos passarinhos”. Patati Patatá lançou “Comer comer”. Gilliard, “Festa dos insetos”.
Foi assim que eu construí parte significativa da trilha sonora da minha vida. Muitas das músicas listadas foram regravadas e se tornaram clássicos. Eu nem sei direito porque comprei certos discos ruins. Curiosidade? Palpite? Autoflagelação auditiva? O fato é que até as músicas bregas viraram chiques. Ainda que não se admita ou não se goste das músicas, elas fazem parte da nossa construção. Que baita salada!
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