Inês é morta enquanto o povo fez das tripas coração

É muito provável que você já tenha ouvido falar ou até mesmo tenha mencionado a expressão “Inês é morta”. Ela costuma ser usada no sentido de “agora, é tarde demais”. Mas você sabia que a famosa frase tem origem em fatos reais? A história não é só verdadeira como trágica e marcou a história da corte portuguesa. Segundo a crônica escrita por volta de 1440 pelo historiador português Fernão Lopes, o príncipe Pedro I havia se apaixonado por Inês de Castro, uma dama de companhia de sua esposa e cujo pai era um nobre espanhol. O pai de Pedro, o rei português Afonso IV, não aprovou o romance e exilou Inês. Após a morte da esposa de Pedro, Inês voltou a Portugal, reencontrou o amante e com ele teve quatro filhos. O rei Afonso seguia insatisfeito com a união e, em 07 de janeiro de 1335, mandou matar Inês. Pedro jurou vingança e, após ascender ao trono, executou dois dos assassinos da amada. Ele não parou por aí e ainda desenterrou o corpo de Inês para levá-lo em procissão de Coimbra a Alcobaça. No fim, mesmo diante de tamanho esforço, Pedro nada poderia fazer, já que Inês estava morta. O caso trágico foi contado e recontado em várias obras portuguesas, como Os Lusíadas, de Luís de Camões, e multiplicou-se em adaptações teatrais, ganhando contornos ainda mais incríveis com o passar do tempo. Construiu-se a versão de que Inês não só foi transferida para uma nova sepultura como o seu cadáver teria sido coroado em uma cerimônia. Exagerada ou não, o fato é que a história de Inês cavou espaço eterno na cultura portuguesa e, por que não, no nosso dia a dia. Também é muito provável que você já usou ou ouviu falar a expressão – “fazer das tripas coração”. Segundo a jovem guia de turismo Inês da empresa contratada na cidade do Porto pela operadora Civitatis, a origem decorre do fato de Lisboa ter sido atacada e isolada no século XV (mesmo século da morte da Inês), ficando a população da cidade sem comida. Em solidariedade, os moradores da cidade do Porto, enviaram toda a carne para socorrer a população da capital, limitando-se a reaproveitar apenas as tripas para se alimentarem. A outra versão histórica é quase igual e relata que, devido aos sacrifícios que a cidade fez para apoiar a preparação da armada que partiu, em 1415, para a conquista de Ceuta, tendo a população do Porto oferecido aos expedicionários toda a carne disponível, ficando apenas com as "tripas" para a alimentação, os naturais do Porto ganharam a alcunha de "tripeiros", uma expressão mais carinhosa que pejorativa. Esta também é a razão pela qual o prato tradicional da cidade ainda é, hoje em dia, as "Tripas à moda do Porto". Mas, o prato mais famoso dessa cidade é chamado de “Francesinha” que consiste de pão recheado com carne, presunto e um molho bem picante e abundante. Voltando às expressões, como se vê, ambas são portuguesas e tem origens históricas. Já, a língua lá falada tem algumas diferenças com a nossa, mas esse é um assunto para o próximo artigo.

Fontes (trechos): https://www.traduzca.com/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tripas_%C3%A0_moda_do_Porto;

Autor

José Carlos Buch
É advogado e articulista de O Regional.