Indústrias Reunidas F. Matarazzo

A agricultura sempre foi o setor mais importante para o desenvolvimento de Catanduva, principalmente em seus anos iniciais.

Naqueles tempos antigos, o destaque era o café, considerado o ouro verde da época, possibilitando fortunas e progresso nas mais diversas regiões do país, inclusive em Catanduva.

Por consequência de uma série de fatores, principalmente pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, o café foi entrando em decadência, os preços despencaram e o governo federal chegou até tomar algumas medidas mais extremas, como a compra e a queima do produto, por exemplo.

Diante dessa decadência, o café, que era um dos maiores responsáveis pelo crescimento de Catanduva e de outras cidades do Oeste Paulista, foi perdendo espaço para outro produto agrícola: o algodão.

O algodão foi sendo cultivado por grandes agricultores de nossa região, pois o local apresentava clima e solo em ótimas condições de plantio, o que, aos poucos, foi ganhando um grande espaço econômico, contribuindo para a formação de algumas agroindústrias nesse setor.

Com a grande produção desse produto em Catanduva, era interessante que a cidade possuísse uma indústria de vulto nesse ramo, trazendo ainda mais desenvolvimento e progresso para a cidade.

Pensando nisso, no início dos anos de 1930, o prefeito da época, Sr. Coriolano de Oliveira Mello, dirigiu-se até a cidade de São Paulo para tentar negociar com o grupo Matarazzo a instalação das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo em Catanduva, tendo total êxito em sua expedição.

IRFM

As Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM) foram o maior complexo industrial da América Latina, tendo como fundador o imigrante italiano Francesco Matarazzo. Para se ter uma ideia de sua grande proporção, na década de 1940, as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo contavam com mais de 350 empresas, entre elas portos, estaleiros, metalúrgicas, papeleiras, entre outros, e empregavam mais de 100 mil trabalhadores.

Em Catanduva, as instalações foram sendo construídas em terreno ao lado das ruas Rio de Janeiro e Maranhão, onde hoje se encontra o prédio da COCAM.

De acordo com o jornal A Cidade, de 1º de dezembro de 1935, temos algumas informações sobre a magnitude de tal empreendimento para a época: “O importante empório industrial Matarazzo, que abrangerá uma área de 2.500 metros quadrados (...) adquirida pela quantia de 165 contos de réis, compor-se-á de máquinas para o beneficiamento de algodão, depósitos, refinação de sal e óleo, destilação de inflamáveis genéricos, instalações elétricas, etc. (...) Catanduva, antes da próxima safra de algodão, terá para seu orgulho, mais um estabelecimento industrial de vulto, que virá aumentar a sua fama de cidade onde o progresso não para e a crise não lhe faz caretas”.

Inauguração

A indústria foi inaugurada no ano de 1936, ano em que o próprio Conde Francesco Matarazzo esteve na cidade, na época com seus 82 anos de idade.

Sobre a passagem deste ilustre industrial em Catanduva, o jornal A Cidade, de 08 de maio de 1936, trazia a seguinte notícia: “Em visita aos seus estabelecimentos industriais locais e a Catanduva, em companhia do seu secretário particular, precedente de Ribeirão Preto, de automóvel, aqui chegou ontem, o conde Francisco Matarazzo, o grande benquisto industrial (...). Depois de visitar a cidade de Pindorama, vieram para Catanduva, às 14 horas, dirigindo-se ao Hotel Acácio, onde hospedou-se o conde. No hotel, o grande industrial recebeu muitas visitas, tendo, à tarde, em companhia do Sr. Coriolano de Oliveira Mello, monsenhor Albino Silva, Dr. José Záccaro e outras pessoas, visitando o Hospital e a Associação Comercial, percorrendo, também, quase toda a cidade. À noite, o conde estava na sociedade Gabriel D’Annuzio, onde tomou parte nas comemorações pela vitória das armas italianas, tendo sido aclamado pela grande multidão que enchia os salões daquela agremiação”.

A indústria de Catanduva tinha como foco o beneficiamento de algodão, mas, além disso, produzia inúmeros produtos.

Isso pode ser percebido através de uma propaganda publicada no jornal A Cidade, de 31 de maio de 1936 que trazia a seguinte inscrição: “A S/A I.R.F. Matarazzo avisa que está refinando nesta cidade kerozene marca Panthéra, prima Whit, e sal, assim como está engarrafando óleo Sol Levante e Gergeolina. As industrias locaes estão em pleno funccionamento para bem servir os senhores comerciantes e interessados da zona em geral. Todos os productos Matarazzo podem ser dirigidos à sua filial, à rua Maranhão Nº 2, tel.73”.

Em 06 de agosto de 1970 inaugurava-se o Supermercado Matarazzo, e desde o final dos anos 60 começou-se a ampliação da fábrica, para proporcionar a moagem de café, inaugurando, em 1971, a COCAM.

Doze anos mais tarde, em julho de 1983, o Grupo Matarazzo de Catanduva foi vendido e a firma compradora continuou atuante na mesma senda de trabalho até os dias de hoje.

Homenagem

Como forma de homenagem à figura de Conde Francesco Matarazzo, em 23 de dezembro de 1970, o prefeito municipal de Catanduva, Engenheiro João Righini, sancionou a Lei Nº 1.189, que em seu artigo 1º trazia a seguinte inscrição: “Artigo 1º - A primeira quadra do Parque das Américas, compreendida entre as ruas Brasil, 15 de Novembro, Maranhão e Avenida São Domingos, passa a ter a denominação de Praça Conde Francisco Matarazzo”.

Fonte de Pesquisa:

- Jornal A Cidade, de 1º de dezembro de 1935;

- Jornal A Cidade, de 08 de maio de 1936;

- Jornal A Cidade, de 31 de maio de 1936;

- Material consultado no acervo do Museu “Centro Cultural e Histórico Padre Albino"

 

FOTOS:

O grande foco da indústria de Catanduva era o beneficiamento de algodão, mas além disso produzia inúmeros produtos, como querosene marca Panthéra, prima Whit, e sal, assim como engarrafava óleo Sol Levante e Gergeolina

As Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo iniciaram suas atividades em Catanduva no ano de 1936, sendo vendida em 1983, doze anos após a inauguração da COCAM

Vista aérea das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, no ano de 1962, onde hoje funciona a COCAM. A fábrica dos Matarazzo em Catanduva chegou a produzir 250 toneladas mensais de óleo de algodão e 16 toneladas mensais de óleo de café

Logomarca das Indústrias Reunidas Matarazzo, que em seu apogeu, chegou a contar com mais de 350 empresas, entre elas portos, estaleiros, metalúrgicas, papeleiras, entre outros, e empregavam mais de 100 mil trabalhadores. No fim dos anos de 1980, foi a concordata sob o comando de Maria Pia Matarazzo, neta de Francesco

 

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.