Indignação
"A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las."
SANTO AGOSTINHO
Um dos mais importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do cristianismo, cujas obras foram muito influentes no desenvolvimento do cristianismo e filosofia ocidental. (354 – 430)
Em nossa última publicação, nesta coluna, fizemos algumas observações sobre a Lei Paulo Gustavo com críticas lúcidas e necessárias. Todavia, o resultado dos contemplados ainda não havia sido publicado no Diário Oficial de Catanduva.
Com a divulgação dos proponentes contemplados com a verba da Lei, nosso olhar abandona o patamar da apreciação e adentra no campo da indignação.
Desde o início, muitas questões foram debatidas e não tivemos um processo que culminasse com a satisfação, principalmente dos artistas que vivem exclusivamente de suas obras.
Muita gente se inscreveu no processo, até mesmo quem tem fonte de renda fora da área artística, lembrando que a Lei Paulo Gustavo é emergencial para a classe artística que ainda sofre as consequências da pandemia.
Alguns desses, que não precisam dessa verba para sobreviver, foram contemplados e nós, artistas – que fazemos teatro em Catanduva há décadas, só com a Cia da Casa Amarela, há 29 anos – não fomos classificados. Os critérios? Só Deus o sabe. Há muitos “produtores”, “pareceristas” ou “curadores” de arte que se especializaram em editais culturais, no entanto não são nem artistas, nem produtores de Arte. Não estamos generalizando.
Essa gente julga quem verdadeiramente cria, produz e encena, enquanto seleciona com notas e critérios absurdos projetos sem sentido.
Escrevemos três projetos de qualidade e excelência. Um deles era oferecer três dias da 5ª. Jornada de Teatro para a Infância e Juventude, gratuitamente, para escolas públicas da cidade. Evento que faz de Catanduva uma das poucas cidades a comemorarem o Dia Mundial do Teatro para a Infância no mundo!!! Infelizmente, não conseguiremos realizar o evento na sua forma original.
Porque nós precisamos dessa verba para fazer cultura. Outros têm suas fontes de renda à parte. Indignação.
Os absurdos não terminam aí, caro leitor.
Datas reservadas no Teatro Municipal, para apresentações artísticas, com ofícios protocolados com antecedência, tem que ser substituídas por eventos não artísticos. Há quem diga que sempre foi assim. Nós sabemos disso. Fazemos teatro há quarenta anos em Catanduva. Contudo, é um modus operandi que já deveria ter caído por terra.
Poderíamos encerrar aqui toda essa indignação, porém essa semana ficamos sabendo do processo de seleção de empresas ou produtoras artísticas que realizam projetos com crianças nas escolas de Catanduva e que são contratadas via licitação. Sim, é a lei. Entretando, a Cia da Casa Amarela é uma das maiores referências nesse tipo de projeto, há 29 anos(!), e não fomos comunicados sobre abertura de licitação para levar teatro às escolas. Como assim? Não estamos falando de um serviço em que muitas empresas podem concorrer. É Arte, Cultura, Teatro e Catanduva tem uma das cias. teatrais mais premiadas do país no teatro infanto-juvenil, uma referência nacional, e reconhecida por crítica, público, educadores, enfim, são raríssimas as cias. teatrais com o currículo que a Cia da Casa Amarela tem.
Ironia do destino é que nós realizamos esse mesmo tipo de projeto em dezenas de cidades, mas não conseguimos fazer em nossa própria cidade, a não ser nas escolas particulares.
A indignação é grande! Difícil mensurar.
Só esperamos que a mudança de rumo que atinge de forma tão salutar e produtiva a Cultura Nacional, desde ano passado, nos contagie de forma positiva a mudarmos as estruturas e políticas culturais locais. Aliás, a esperança é a última que morre e como escreveu tão bem Santo Agostinho, que suas duas filhas nos conduzam a tempos melhores.
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