Indagações
Uma das minhas principais indagações como professor, como pesquisador e como ser humana é buscar saber como pessoas que estão à margem da sociedade conseguem ter uma visão tão efêmera sobre as desigualdades sociais que lhe acometem e ainda sim, defenderem ações neoliberais que impactam diretamente na sua dignidade, enquanto ser humano.
Infelizmente, algo muito presente na educação é a famosa meritocracia, fomentada e incentivada por muitos colegas de profissão, esse reforço meritocrático tende a afastar o propósito de proporcionar ações equitativas no ambiente escolar, já que há classificação entre quem é o mais hábil, o mais inteligente, o menos capaz, o mais arteiro e quem tem mais ou menos educação.
Nesse ponto, há uma confusão sobre o que é ser educado e ser obediente, DeVries e Zan (1998) já afirmavam que crianças obedientes não são, necessariamente, crianças moralmente desenvolvidas, aqui, mais educadas. Pode ser que haja a pressão coercitiva nesse ambiente, de forma que a criança sinta-se obrigada a obedecer, pelo medo da represália que certamente virá. Aqui vai uma reflexão: Há uma tendência de culpabilizar as famílias pela educação das crianças e/ou adolescentes, mas a maioria fica dentro das escolas por horas a fio, será que estamos oferecendo uma educação adequada, através da construção dialógica a eles? Será que não estamos apenas reproduzindo o que eles já vivenciam em casa, com uma total falta de pertencimento àquele espaço, bem como ao escolar?
De toda forma, nessa queda de braço, apequenamos e assujeitamos essas crianças, que já sofrem alguns descasos na família, só pelo fato de que precisamos justificar nosso ponto de vista, que, diga-se de passagem, falho e turvo. É por esse mesmo mecanismo que reforçamos o principio meritocrático, pois os desajustados, devem ser relegados a um nada existencial, enquanto os obedientes, há, esses desfrutam o berço esplendido. Tal conduta reforça os princípios capitalistas, já que é nesse pressuposto de sujeitar-se a qualquer coisa, estamos formando mão de obra barata.
O pior, reforçado por pessoas que vivenciaram mas mesmas desigualdades, que sentiram na pele, mas que, por ironia do destino, alinharam-se aos mesmos que lhe oprimiram durante todo um tempo de vida. Mas estão cegos para observarem que suas condutas em si, são alinhadas a quem reprime e exclui.
Mészarós (2008,p.25) traz uma reflexão interessante para quem está na educação, mas vive alienado ao seu contexto social, sem olhar para as desigualdades latentes de nosso pais, estado, cidade e que impactam em todo o processo de desenvolvimento humano [...] uma reformulação significativa da educação é inconcebível sem a correspondente transformação social no qual as práticas educacionais da sociedade devem cumprir as suas vitais e historicamente importantes funções de mudança.
Ou seja, há falhas nas políticas sociais, educacionais, mas enquanto ainda estivermos sempre do lado de quem oprime, nunca haverá mudança significativa, tampouco, paliativa. “Se voce é neutro em situações de injustiça, voce está ao lado do opressor” (Desmond Tutu).
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