Homenagem a uma mãe especial

Muito já se escreveu sobre esse dia das mães que é comemorado no segundo domingo de maio em nosso país e, também em muitos outros como EUA, Canadá, Austrália e grande parte da Europa. Alguns países, não muitos, comemoram o dia das mães em outras datas – México, Guatemala e El Salvador o fazem no dia 10 de maio, Argentina, no terceiro domingo de outubro e Rússia no último domingo de novembro, para citar alguns. O importante é que, em qualquer lugar do mundo, um dia do ano é dedicado às mães, tal o respeito que os povos tributam a essa figura tão representativa, emblemática e celebre. Mãe (em português), Mother (em inglês), mère (em francês), madre (em espanhol), madre ou mamma (em italiano), mutter (em alemão), mùqin (em chinês), Hahaoya (em japonês), amy (em árabe), àbba (em aramaico) e até mesmo mainha (em baianês) – não importa a língua e a forma de grafia, mãe é uma figura universalmente respeitada e amada, porquanto, certamente cada mãe representa e simboliza a figura de Maria, a mãe de Jesus, na terra. A coluna traz hoje a história de uma mãe simples da periferia da nossa cidade. Nascida no seio de uma família grande de colonos/meeiros de café (ela + 6 irmãos), teve uma infância e juventude laborando no cultivo da rubiácea e morando sempre em fazendas da região. Casou-se com certa idade para a época – 27 anos, com um homem quase três anos mais novo. Foi mãe de quatro filhos – dois varões e duas mulheres. Quando faleceu há nove anos, deixou além do marido (hoje com 100 anos), os 4 filhos, 12 netos e 9 bisnetos (hoje são 11). Se lhe faltava a leitura, sobravam-lhe as virtudes em prendas domésticas, muito comum a todas as mulheres simples daquela época. Enquanto o marido lutava como carroceiro para não deixar faltar nada em casa, principalmente comida e material escolar para os filhos (que ele considerava essencial), ela, sem a ajuda de ninguém, criou os quatro. Confeccionava a roupa para toda a família numa máquina Elgin de mesa acionada por pequena manivela, posteriormente substituída por uma de pedal e, de quebra cuidava da casa, de piso de vermelhão e telhado sem forro, que estava sempre irretocável. Não havia água encanada, como também rede de esgoto e tampouco asfalto na rua. Para manter o fogão aceso era preciso alimentá-lo com lenha conseguida pelo marido ou os meninos nas imediações da casa. O mesmo fogão que servia para cozinhar os alimentos e esquentar a água, também produzia o carvão utilizado no ferro de passar roupas. A mesma lenha era usada também para torrar o café num torrador giratório que lembrava um pequeno tambor. Os grãos, após torrados, eram moídos no moinho mimoso que também servia para moer outros alimentos, principalmente a pimenta do reino. Na parte externa da casa, num forno também à lenha eram assados os pães (essencialmente caseiros) consumidos na semana. A privada era uma fossa construída isoladamente no fundo do quintal. A água provinha de poço perfurado próximo da cozinha de onde era retirada com o uso de sarilho. Haja braço!!! Banho só de bacia ou de canequinha – primeiros os filhos mais novos, depois os outros e finalmente os adultos. À noite, as lamparinas iluminavam o ambiente – se faltava a luz sobrava amor, harmonia e cumplicidade naquela família. No quintal, além de um cercado com galinhas que botavam ovos para alimentar a família, sempre havia um porco na seva, alimentado com lavagem (restos de alimentos) que proporcionava a linguiça e principalmente a carne, armazenada na gordura em latas de 20 litros e que servia também para cozinhar os alimentos. A parte não consumida (vísceras e sebo) era utilizada na produção de sabão em um grande tacho levado ao fogo e que exigia um movimento circular ininterrupto com uma pá de madeira, por horas. Haja braço!!! E, essa mulher, verdadeira heroína, cuidava incansavelmente de tudo isso. Fato é que, esse quadro de muita dificuldade perdurou até que os meninos (os dois mais velhos) se tornassem adolescentes quando, finalmente os benefícios dos serviços de energia, água e esgoto chegaram ao quarteirão, isso no início da década de sessenta. De se lembrar que os uniformes da escola, feitos também por ela, eram sempre impecáveis, inclusive o embornal azul marinho de tecido grosso que os filhos usavam para levar o material do ginásio e que, muitas pessoas que moravam no trajeto por onde os filhos passavam, achavam engraçado. Esse era o cenário e essa a resumida trajetória de vida de uma mãe, avó e bisavó que superou todas as adversidades e os obstáculos que a vida lhe impôs – e não foram poucos! Mas, é também a singela e sublime história de Júlia Fabricio Buch, que viveu 94 anos (*28/10/1920 +17/01/2014), uma mulher do seu tempo que eu tenho muito orgulho de ser seu filho. Se você teve uma infância parecida com a descrita ou identificou alguma semelhança, sua mãe com certeza viveu a mesma e prosaica labuta. É claro que cada mãe traz uma história e, só o fato de ser mãe a sua linda história tende a se perpetuar nos filhos. Assim são todas as mães. Como escrevi um dia – toda mãe é uma extensão das mãos de Deus, quando afaga, cuida, protege e abençoa os filhos e os netos. Parabéns a todas as mães pelo seu dia, que não se limita ao hoje.

Autor

José Carlos Buch
É advogado e articulista de O Regional.