Há quanto tempo?

Há quanto tempo você não vai ao cinema? Ou assiste um bom filme na TV?

Quando foi a última vez que foi teatro? Não stand-up. Isso não é teatro. Nos referimos a uma peça de teatro, comédia ou drama, mas com conteúdo, bom elenco, direção inteligente.

Faz tempo, não faz?

O último álbum de um(a) cantor(a) ou banda que você ouviu da primeira à última faixa, quando foi? Independente da mídia, se é digital, CD ou vinil. Quando foi a última vez que colocou para ouvir, sentou-se, apreciou aquele som e deixou-se levar pelas emoções e memórias que esse deleite proporcionou?

Lembra qual foi o último livro que você leu? Seria exigir muito?

Talvez você responda a esse questionamento acima com respostas positivas: fui ontem cinema; acabei de assistir um filme em casa; ainda essa semana fui ao teatro ou, por fim, leio um livro por semana, mês etc. Saiba que você faz parte de uma minoria que tem consciência de que sem cultura não há vida.

Contudo, se você respondeu “não lembro”, ou pior: “isso tudo não me faz falta alguma”, sentimos informar que há um bonde passando na estação e você perdeu. Tudo bem que sempre aparecerá outro bonde, outro trem, uma outra viagem. E saiba: é uma viagem sem volta porque quem pega a condução da cultura, jamais voltará ao ponto de partida, porque é uma jornada sem volta!

Os nossos dias, tempos atuais de tantas sombras intelectuais, ignorância e preconceito, suplicam por beleza e emoção. Sentimentos que aflorem da mais profunda busca humana por dias melhores, de leveza, de harmonia e entendimento.

Sempre lançando luzes na alma e tirando o homem da escuridão, a Arte nunca foi tão imprescindível. A subjugação eletrônica e o distanciamento físico que o uso do celular nos condenou causam profundos danos ao ser humano que anseia por vida.

Temos um mundo nas palmas da mão, acompanhando e compartilhando tudo o que ocorre no planeta, em segundos, mas não observamos e sentimos o universo vivo que nos rodeia, muito próximo de nós.

Digitamos mensagens ou enviamos áudios para pessoas que estão espalhadas por todos os cantos do globo, no entanto vacilamos e não conversamos, olhando nos olhos, de quem está ao nosso lado.

Perdemos o contato visual, o tato, enfim, nos distanciamos uns dos outros.

Tudo afeta o homem. Aqui, neste caso, negativamente.

Nos isolamos num egocentrismo e egoísmo sem precedentes. E, quanto mais nos endurecemos e esfriamos nas relações vivas, verdadeiras, mais nos afastamos da Arte, tão vital a todos, sem distinção.

Se não nos habituarmos à vivência cultural, em breve – como já acontece a muitos – perderemos a identidade, morreremos um pouco a cada dia... até nunca mais! E não há bonde que nos tire da inércia intelectual, principalmente se estivermos saturados de lixo midiático.

Ouça música com seus filhos, leve-os ao cinema, ao teatro, crie a sua “hora de leitura” em família. Visite museus, assista balé, shows e concertos. Converse! Deixe a arte adentrar sua alma e que ela te eleve a todos que já vivem a realidade mais clara: Arte é essencial à sobrevivência humana.

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.