Guerra Civil Espanhola e Catanduva

Em 17 de julho de 1936, iniciava-se um grande conflito conhecido como Guerra Civil Espanhola, antecedente da Segunda Guerra Mundial. Esse conflito durou até 1º de abril de 1939.

É possível perceber nesse conflito, de um lado, as forças nacionalistas e fascistas, aliadas a instituições tradicionais da Espanha, como o Exército, a Igreja e os latifundiários. Do outro lado, tínhamos a Frente Popular, a base do governo republicano espanhol, representados pelos sindicatos, partidos de esquerda e os partidários republicanos.

Para o primeiro grupo, o conflito serviria para livrar o país da influência comunista, restabelecendo os valores da Espanha tradicional, ou seja, o autoritarismo e o catolicismo. Para isso acontecer, era preciso acabar com a República, que havia sido proclamada em 1931.

Já para o segundo grupo, era preciso dar um basta em todo esse avanço das forças fascistas, que já haviam conquistado a Itália, a Alemanha e a Áustria.

Segundo as decisões da Internacional Comunista de 1935, elas deveriam se aproximar de partidos democráticos de classe média, para que fosse formada uma Frente Popular, que teria como função enfrentar todo esse sucesso nazi-fascista. Assim, socialistas, comunistas, anarquistas e democratas liberais deveriam se unir para barrar esse avanço.

O conflito

O clima de turbulência foi motivado pela intensificação da luta de classes, principalmente entre anarquistas e direitistas, que provocou inúmeros assassinatos políticos, o que contribuiu para criar uma situação de instabilidade, afetando o prestígio da Frente Popular.

Com isso, a direita estava entusiasmada com o sucesso de Hitler, e mesmo após terem perdido as eleições, os direitistas começaram a conspirar contra o governo, recebendo apoio dos militares e dos regimes fascista e nazista, de Portugal, Alemanha e Itália. Acreditavam que esse apoio dos militares derrubariam facilmente a República.

No dia 18 de julho de 1936, o general Francisco Franco insurgiu o exercito contra o governo Republicano. Ocorreu que nas principais cidades como Madri e Barcelona o povo saiu as ruas e impediu o sucesso do golpe. Com isso, milícias anarquistas e socialistas foram até então formadas para resistir ao golpe militar.

O país, então, em pouco tempo ficou completamente dividido em áreas nacionalistas, dominados pelas forças do General Franco e em áreas republicanas, controladas pelos esquerdistas. Nas áreas republicanas, houve uma revolução social: terras foram coletivizadas, as fábricas foram dominadas pelos sindicatos, assim como os meios de comunicação.

Porém, a superioridade militar do General Franco imposta sob as direitas foi o fator decisivo na vitoria dele sob a República. Em 1938, suas forças cortaram a Espanha em duas partes, isolando assim a Catalunha do resto do país.

As baixas da Guerra Civil Espanhola oscilam entre 330 e 405 mil mortos e meio milhão de prédios foram destruídos, metade do gado Espanhol foi morto, e, além disso, a renda per capita reduziu em 30%, fazendo com que a Espanha afundasse numa estagnação econômica que se prolongou por quase 30 anos.

Missa em Catanduva

Em Catanduva, a população espanhola apenas rezou para que o conflito chegasse logo ao fim e trouxesse um número reduzido de mortos e feridos.

Em uma das páginas do jornal A Cidade, de 15 de julho de 1937, há um convite da diretoria do Centro Espanhol de Catanduva, de uma missa para os mortos da guerra civil que se realizava na Espanha. “A diretoria do Centro Espanhol de Catanduva convida, mui respeitosamente, as dignas autoridades locais, o povo em geral e, em particular, a colônia hispânica da cidade e circunvizinhas para assistirem a solene missa cantada, em sufrágio da alma das vítimas da Guerra Civil na Espanha, cujo aniversário transcorrerá no 18 do corrente. Procurando render, assim, preito e homenagens aos que, sem distinção de partido tombaram na sangrenta luta fratricida na Pátria distante sempre querida e gloriosa, a diretoria do Centro Espanhol toga o comparecimento de todos à missa de réquiem, que será celebrada na próxima segunda feira, dia 19, às 10 horas na Matriz desta cidade”, trazia o texto do convite.

Celebração

No referido dia 19, foi celebrada, às 10 horas da manhã, na Igreja Matriz de São Domingos, uma missa encomendada pelo Centro Espanhol, com o concurso do Vice Cônsul da Espanha, nesta cidade, Dr. Ângulo Dias, em sufrágio dos mortos da guerra civil espanhola.

Antes de iniciar a cerimônia, o Padre João Garcia, vigário de Santa Adélia, superior da Congregação Agostiniana, em brilhante improviso, falou sobre o significado da missa. Disse o padre que se ia presenciar, “(...) não deveria apenas ser interpretada como sendo pela intenção dos mortos desta ou daquela facção atualmente em guerra infeliz, porque a caridade cristã manda amar a todos e a morte nível todos os membros da comunidade católica”.

A seguir, iniciou-se o Cântico da Vigília, sendo oficiantes os padres Antimo Del Pozo, vigário de Pindorama, acolitado pelos padres Francisco Abril, de Mirassol e Feliciano Grande, de Fernando Prestes. O coro, formado por sacerdotes espanhóis das paróquias circunvizinhas, sob a direção do padre Manoel Campelo, executou a Missa do Requiem de Haler a duas vozes.

Estavam presentes na missa algumas autoridades de Catanduva, o agente consular da Espanha, os representantes das sociedades locais, representantes da imprensa de Catanduva e de São Paulo, bem como grande número de membros da sociedade espanhola.

Dentre os sacerdotes presentes, estavam Antimo Del Pozo, de Pindorama; padre João Garcia, de Santa Adélia; padre Manoel Campelo, de Atibaia; padre Mathias Boner, de Ariranha; padre Francisco Abril, de Mirassol; padre Martin Remis, de Itajobi; padre Feliciano Grande e Jeremias Veja, de Fernando Prestes; e padre Adolpho Mosan, de Santa Adélia.

Fonte de Pesquisa:

- Jornal A Cidade, de 15 de julho de 1937.

- Jornal A Cidade, de 20 de julho de 1937.

- Material pesquisado no acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino.

 

Fotos:

A direita espanhola recebia ajuda do governo nazista, de Adolf Hitler e do fascista, de Benito Mussolini. Nesta foto, os dois líderes, em maio de 1938, em visita de Hitler à várias cidades italianas

Cartaz de propaganda da Frente Popular, que defendiam a República na Espanha e lutavam contra o avanço das forças nazistas e fascistas, que já haviam conquistado uma série de países

Francisco Franco, general e chefe de Estado espanhol, liderou um governo de orientação fascista, que durou de 1936 até a sua morte, em 1975

Obra “Guernica”, de Pablo Picasso, pintado a óleo, nas cores preto, branco e cinza, revelando toda a indignação e repulsa pelo sucedido na cidade de Guernica e aos seus habitantes durante a Guerra Civil Espanhola

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.