Grito de Alerta

“Eu acredito é na rapaziada.”

Luiz Gonzaga Júnior

Cantor e compositor (1945-1991)

 

Na última semana, tivemos a alegria de poder viajar e descansar após longo período. Fizemos viagem a passeio em janeiro, para São Paulo, mas foram apenas três dias. Viagem mesmo, para curtir e sentir, por alguns dias, desvinculado do cotidiano, das preocupações e compromissos, só havia acontecido em 2019, antes do período crítico que viríamos a viver a partir de 2020.

Dessa vez, conseguimos uma semana plena de desligamento do dia a dia para vivermos a experiência do descanso sem culpa, e escolhemos o Rio de Janeiro para isso. Como nossa praia não é necessariamente mar e areia, não importava se estaríamos viajando para a cidade maravilhosa em pleno inverno. Ainda assim, tivemos um dia de sol, na praia, com direito a esquecer do mundo, de frente para o mar, enfrentando as geladas águas de Copacabana. 

No entanto, quando artistas tentam fugir da realidade para descansar, as antenas criativas continuam ligadas, atentas o tempo todo. É quase impossível, mesmo nas férias, desconectar-se esteticamente, artisticamente, espiritualmente daquilo que é o alimento da nossa alma, a Arte!

Dessa forma, entre vários passeios, um mais lindo que o outro, tivemos o privilégio de assistir ao musical Cartas para Gonzaguinha, um verdadeiro banho cultural, humano, político e artístico, a partir das músicas inesquecíveis do compositor que partiu, precocemente, aos 45 anos de idade. Um dos maiores talentos da MPB, com suas letras e melodias tão marcantes e eternas!

Na peça musical, atores, cantores e músicos interpretaram diversas canções famosas de Gonzaguinha e as letras complementavam falas, falas reforçavam letras e tudo numa emoção à flor da pele, como é a obra do compositor.

Entre os músicos, estava Nanan Gonzaga, filha de Gonzaguinha e neta de Luiz Gonzaga, o rei do baião. Emocionante! Tivemos o prazer de dizer-lhe, pessoalmente, o quanto a obra de seu pai nos influenciou e continua influenciando, principalmente na qualidade musical, que é indiscutível, como na consciência social, política e humana que sua biografia e obra nos faz adquirir.

Um grito de alerta para as novas gerações! Gonzaguinha faz falta nesse momento caótico pelo qual passamos e sua música, como de tantos outros, precisa ser relembrada, divulgada e revivida nos nossos dias. Felizmente, vimos jovens – entre eles nosso filho e a namorada – chorando e se emocionando com a peça. Que bom que há uma juventude que ainda pensa e não alienada por um processo desinformativo e degradante das redes sociais, vazias e superficiais.

Retornando e muito felizes com a viagem, deparamo-nos com a apresentação de nossa peça, Nina e Carambola, que acontecerá nesse domingo, às 10h30, no Teatro Municipal. A peça fala sobre isso mesmo, muito parecido com o universo de Gonzaguinha, que é tomar conta, preocupar-se com o outro e fazer algo pelo bem geral.

100% renda de nossa apresentação será revertida a Protetora de Animais – Laura Borba – jovem também, que decidiu dedicar uma grande parte de seu tempo e sua vida aos pets abandonados nas ruas, feridos, maltratados, esquecidos. Ela os recolhe, cuida, cura as feridas, leva ao veterinário e depois sai em busca de pessoas que os queiram adotar. É disso que estamos falando, nós também acreditamos na rapaziada que enfrenta as diversidades da vida e a comodidade de uma sociedade que olha apenas para seu próprio umbigo e não se comove, nem se move, pelo bem do próximo, seja o próximo um humano ou um animal.

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.