Gravidez precoce

Nunca se falou tanto em sexo e sexualidade como agora. Nem por isso deixamos de ver a existência dos preconceitos, que continuam fortes apesar de toda nudez explicitada pela mídia. Quando nos deparamos com uma adolescente grávida, logo se formula a hipótese de falta de informação e, portanto, gravidez indesejada, o que não necessariamente corresponde aos fatos. 

Em primeiro lugar, a falta de informação existe, sim, e é um dos principais flagelos da sociedade brasileira. Porém, isso não explica o enorme número de adolescentes que engravidam, em alguns casos repetidas vezes, a despeito de conhecerem amplamente os métodos contraceptivos existentes, bem como onde consegui-los, inclusive gratuitamente na rede pública de saúde. 

A mera difusão de informações, mesmo que de alta qualidade, não necessariamente implica a educação efetiva em relação ao conteúdo veiculado. É preciso que o aspecto emocional seja incluído no discurso e componha o contexto maior para a informação. 

A segunda configuração diz respeito ao pressuposto da indesejabilidade daquela gravidez precoce. Muitas vezes, a garota quer mesmo engravidar, mas não o revela. Apesar de ela ser racionalmente competente, o entendimento de determinados aspectos emocionais dependerá ainda de um amadurecimento de seus mecanismos de defesa. 

Ela deseja sua afirmação como mulher e ter um lugar de poder no mundo. A maternidade sempre foi e ainda é um dos maiores poderes de uma mulher, e isso vem amplamente reforçado pelo instinto e por preceitos culturais. 

Abandonar as angústias da adolescência para entrar cheia de glórias no idealizado mundo adulto pode parecer muito tentador. Mas o que começou como um sonho pode terminar como pesadelo. O que deveria ser um projeto de vida a três, cai por terra, por não se haver terminado a tarefa de antes aprender a desenvolver um projeto de vida a um. 

É preciso que haja um espaço para o amadurecimento do lado emocional, para se falar de desejos e fantasias, para se romper tabus e principalmente para se desenvolver a autoestima e a autoconfiança fundamentais para os momentos de decisão. 

Para isso, além de esforços pedagógicos, necessitamos do envolvimento da família e da sociedade, por intermédio, principalmente, de uma mídia inteligente e interessada em encarar de forma amadurecida essas questões. O adolescente precisa sentir-se acolhido como ele é, não forçado a transformações precoces, que cobrarão seu preço lá na frente. 

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp