Grandes jornalistas de Catanduva (I)
Ao longo de toda sua história, Catanduva contou com uma série de jornais e, consequentemente, um número considerável de jornalistas que existiram, existem e existirão ainda no nosso querido município.
Seria quase impossível citar todos os nomes de jornalistas importantes, que contribuíram e continuam contribuindo para a história de Catanduva. Nesse sentido, gostaria de relembrar cinco grandes nomes, presentes em muitas pesquisas que realizo há mais de quinze anos sobre a história de Catanduva e região.
Mozart da Costa Nunes
Tipógrafo e jornalista, nasceu em 06 de maio de 1908, na cidade de Franca e veio ainda criança para Catanduva, pertencente a uma família tradicional. Desde sua adolescência interessou-se pela arte gráica e pelo jornalismo, ingressando, em 1926, na Folha do Povo, um jornal local fundado em 1921. Pouco tempo depois, ingressou no jornal A Comarca de Catanduva, desempenhando aí as funções de redator e tipógrafo até o ano de 1934, quando, nesse mesmo ano, lançou a revista O Século, que circulou mensalmente até junho de 1958, pouco antes de sua morte, que ocorreu em 02 de julho de 1958.
O jornalista Mozart da Costa Nunes era muito honesto, fundamentado no patriotismo e no bem servir à coletividade da terra que o viu crescer. Sempre de máquina fotográfica em mãos, ia sempre registrando os acontecimentos da época.
De acordo com escritos contidos na Revista O 14 de Abril, de 14 de abril de 1963, esta fazia um pequeno comentário sobre o grande Mozart: “Diz bem o Evangelho: “Onde está o teu tesouro, ali está o teu coração”. O tesouro de Mozart era o seu lar, era Catanduva, a sua gente hospitaleira, a sua cultura, o seu carnaval, a sua história, o seu passado de trabalho construtivo, o seu progresso, as praças ajardinadas, os seus edifícios, as suas ruas movimentadas, a Igreja de São Domingos com sua decoração e os quadros do imortal Benedito Calixto que Mozart não se cansava de admirar e ia reproduzindo em sua revista.”
Atualmente, o Centro Cultural e Histórico Padre Albino contém quase todas as edições da revista O Século em seu acervo, considerada uma das melhores fontes de pesquisa para a História local, até 1958, pois nela se encontram reportagens muito bem ilustradas sobre a vida política, econômica, esportiva, social e religiosa da cidade.
Nair de Freitas
Contador e jornalista, nasceu em Pederneiras – SP, em 16 de outubro de 1913. Chegou em nossa cidade em 1936, vindo da cidade de Pindorama, onde dirigia um semanário local. Aqui, assumiu a direção e redação do diário matutino A Cidade, fundado por João Celestino da Costa, em 02 de março de 1930, cujas oficinas gráficas localizavam-se em uma casa na rua Maranhão, ocupando a vaga então deixada por Carlos Machado.
Após o falecimento do proprietário, em 1942, adquiriu em sociedade com o professor Geraldo Corrêa e Carlos Merighe. Por volta de 1945 essa sociedade foi desfeita passando a ser o único proprietário. Assumindo a direção do jornal, deu-lhe nova fisionomia, destacando-se como um dos mais atuantes órgãos da imprensa interiorana. Orgulhava-se de ter sido o seu jornal o primeiro a dar um “furo internacional”, ao noticiar a morte de Getúlio Vargas, fato destacado pelo jornal New York Times.
Segundo o jornalista Augusto Gimenes, “(...) a história da imprensa em Catanduva pode ser dividida em antes e depois de Nair de Freitas, quando passou a influir diretamente na vida da comunidade, tendo, em certa época, ditando normas, chegando mesmo a conduzir os destinos sócio-culturais da cidade, na orientação e condução dos problemas mais diversos, sempre com as melhores coluções entre opiniões discordantes.” Foi também um dos fundadores da Rádio Difusora e chefe do setor e imprensa da SUNAB (Rio de Janeiro).
Por motivo de doença, ficou afastado das funções de jornalista durante vários anos, quando o memso passou a ser dirigido pela sua esposa Carmy de Freitas e pelo irmão, Onélio de Freitas. Faleceu em Catanduva, no dia 22 de junho de 1985, deixando a esposa Carmy de Freitas, que foi sua grande colaboradora no noticiário social e os filhos José Carlos Corrêa de Freitas e Iara Lúcia Corrêa de Freitas Silva, além de netos e irmãos.
Carlos Machado
Sem qualquer sombra de dúvida, uma das personalidades mais importantes da cidade de Catanduva foi o Sr. Carlos Machado. Nascido em Araraquara, em 02 de maio de 1903, aqui chegou no final de 1918 para servir como telegrafista da Estrada de Ferro São Paulo Norte, depois EFA.
Desde cedo se interessou pelo jornalismo, colaborando praticamente em todos os órgãos de imprensa de vulto que existiram em Catanduva, tendo sido, inclusive, redator e colunista, diretor e proprietário de alguns deles, como O Corneta e Catanduva Jornal. Logo após a fundação da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Catanduva, ficou como seu secretário durante 48 anos.
Carlito, como era popularmente chamado, foi desde 1924 um político atuante, principalmente como vereador, sendo reeleito muitas vezes, tendo ainda sido eleito para a vice-prefeito, exercendo o cargo durante o ano de 1955.
Foi também um esportista muito ligado ao futebol, pingue-pongue, basquete, pedestrianismo e ciclismo, tendo durante certo período seu jornal O Corneta patrocinado várias competições. Durante vários anos participou ativamente do Carnaval, ajudando a dar-lhe a projeção de “melhor carnaval do interior do Brasil”. Foi um seu projeto de lei que tornou feriado o Dia do Padroeiro São Domingos. Por vários anos, Padre Albino encarregou-o de organizar as festividades. Foi também de sua autoria a indicação para que Monsenhor Albino, em 1968, quando faria 50 anos de sua permanência entre nós, recebesse o título de Cidadão Benemérito de Catanduva. Tudo isso e mais o grande trabalho realizado em prol do municipalismo, sendo um dos fundadorres da APM – Associação Paulista dos Municípios.
Atuando em tantas frentes, sempre tinha notícias fresquinhas a passar a seus leitores no “Fisco e Notinhas”, do jornal A Cidade, ou em “Notas que Interessam”, no jornal O Regional, além do “Você sabia que...”, no Catanduva-Jornal ou ainda mesmo no noticiário diário do programa Rotativa no Ar, da ZYD5 – Rádio Difusora de Catanduva.
Não foi jornalista de escrever avolumados artigos, defendendo teses e interreses. Usava das notas curtas, mas com conteúdo, sobre os mais variados assuntos ligados à cidade. Através delas, hoje em dia, podemos ter informações valiosas de fatos, nomes, datas, acontecimentos, entre outros.
Carlito, que pelos seus cabelos compridos, foi também apelidado de Playboy da Monarquia, faleceu em 13 de junho de 1985, aos 82 anos, dois meses após a Tribuna da Câmara Municipal, que tantas vezes usou, passar a denominar-se Tribuna Carlos Machado. De vida simples, mas sempre com ótimos relacionamentos e sem nunca ter-se aproveitado da política, recebeu, em 1974, o título de Cidadão Catanduvense. Foi casado com a Sra. Maria Thereza Machado e teve dois filhos: Dr. José Nelson Machado e Dr. Jesus Carlos Machado. (Continua na próxima semana)
Fonte de Pesquisa:
- Boletim Só 10, de autoria do professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli, ano VII, Nº 73, de setembro de 2015.
Foto: Prédio onde funcionava a gráfica O Século, localizada na rua Pernambuco, Nº 429, de propriedade do jornalista Mozart da Costa Nunes, que produziu uma das grandes relíquias de nossa cidade, a revista O Século, que circulou de 1934 a 1958
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