Gostava tanto de você

Assisto pouca coisa na TV. É mais por falta de tempo mesmo. Mas se tem uma coisa que adoro e não perco são os programas de calouros e suas versões modernas. E num destes programas, um candidato ao estrelato foi ousado: cantou “Gostava tanto de você”, música gravada por Tim Maia. Curiosamente, esta música consta num álbum que completou 50 anos em 2023.

Esta música sempre esteve envolvida em lendas. Existem versões de que foi feita por Tim Maia para sua filha, vítima de uma doença grave durante sua infância. Outra versão diz que foi feita para um amigo que morreu e que Tim Maia não pode se despedir dele. Uma terceira teoria assegura que a inspiração foi o grande e inesquecível amor que Tim teria conhecido num bar em Copacabana, na Zona Sul carioca, depois de um show. Tudo errado. A começar do fato que Tim Maia nunca teve filhas e sim dois filhos, Carmelo e Leo Maia, sendo este, também cantor. Na verdade, o autor da melodia e letra é Edinho Trindade, parceiro do cantor desde os tempos de “miserê” e integrante dos grupos Os Tijucanos do Ritmo e The Sputiniks, fundados por Tim Maia logo no início da carreira. Na época, Trindade tinha uma namorada chamada Meire, culpada pelos desentendimentos entre os membros da banda. A música foi inspirada pelo fim do namoro. Nada a ver com Tim Maia. Uma curiosidade sobre o conjunto The Sputiniks é que foi a primeira oportunidade que Roberto e Erasmo Carlos tiveram como artistas.

O álbum foi o quarto da carreira de Tim Maia e leva o nome do cantor. Neste LP, consta outro grande sucesso à época, “Réu confesso”. Tinha também mais três músicas em inglês. Tim Maia cantava bem em inglês. Tinha morado cinco anos nos Estados Unidos. Lá, recebeu o nome artístico de “Jimmy, the brazilian”. Os americanos não conseguiam pronunciar seu apelido corretamente: “Tião”. Foi deportado após cumprir pena de seis meses de cadeia por ter se envolvido com drogas e roubo de carro. Outro detalhe que chama atenção no LP é a grande quantidade de técnicos, músicos e instrumentos (trompetes, trompas, saxofones, congas, violas, ganzás, pianos e cowbells).

O contexto da obra também era interessante. A guerra do Vietnã tinha acabado. Os lares brasileiros assistiam sua primeira telenovela em cores: “O bem-amado”. O Airbus fazia seus primeiros voos e a primeira ligação por celular foi feita. Mas Tim Maia não estava nem aí para nada disso. Ele sentia-se em casa nos bailes dançantes dos subúrbios cariocas onde suas músicas eram tocadas a todo momento. Não saia da Pavuna, de Bangu e de Cascadura. Encantava-se com a plateia jovem e pobre, o que fazia ele se lembrar da sua infância na Tijuca.

O disco tem 50 anos. Ele morreu precocemente, há 25 anos, aos 55. Dizem que ninguém é insubstituível. Quem falou isso não conheceu Tim Maia.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.