Golpes digitais: a praga com curso de boas maneiras

O ladrão moderno aposentou a meia na cabeça e a arma no bolso. Agora, ele usa óculos sem grau, toma café com leite, mexe no celular e dá bom dia para a vítima antes de levar tudo. O arsenal? Um teclado, um celular e a cara de pau de quem sabe que pode arruinar a vida alheia sem precisar sair de casa.

No Brasil, esse tipo de meliante cresce mais rápido que fila de banco em dia de pagamento. Não são os tais hackers internacionais, com codinomes misteriosos e computadores piscando luzes verdes, não. É o golpista nacional, legítimo produto de exportação, que se especializou em transformar boletos falsos, sorteios fajutos e promoções "só hoje" em verdadeiras obras de engenharia da trapaça.

Hoje, a questão não é "será que vão tentar me enganar?", mas "em qual turno do dia". De manhã, pode vir um SMS dizendo que seu pacote está retido na alfândega. Depois do almoço, um boleto com o logotipo mais borrado que fotocópia de 1985. À noite, um telefonema urgente de um "sobrinho" pedindo Pix. Tudo começa na tela e termina na sua conta zerada, com você tentando lembrar em que momento decidiu confiar no link que piscava mais que árvore de Natal.

Claro, existe uma lista de cuidados. Conferir remetente, código de barras, nome do beneficiário, desconfiar de valores fora do normal… Mas convenhamos: a pressa é inimiga da atenção, e o brasileiro, esse ser multitarefa, acredita que pode pagar contas, responder e-mails e assistir a um vídeo de gato ao mesmo tempo. É nesse momento zen de distração que o golpe entra feito penetra em festa de casamento: sorrindo e com prato na mão.

Enquanto trancamos portas e janelas, deixamos a senha do e-mail como "12345" e clicamos, sem pestanejar, em links enviados por "amigos" que desapareceram desde a oitava série. É como colocar alarme na casa e entregar a chave pro ladrão porque ele "parece gente boa".

O crime já fez curso de atualização para o século XXI. A nossa defesa, infelizmente, ainda está na era do orelhão. Não é paranoia: é instinto de sobrevivência. Assim como aprendemos a olhar para os dois lados antes de atravessar a rua, precisamos olhar duas vezes antes de pagar um boleto ou clicar numa mensagem.

No mundo digital, o bandido não bate à porta. Ele já está sentado no sofá, com os pés na sua mesa de centro, esperando você servir o café — e de preferência, pagar a conta.

Gregório José

Jornalista, radialista e filósofo

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Artigos de colaboradores e leitores de O Regional.