Getúlio Vargas e Catanduva
Depois de permanecer quinze anos no poder, Getúlio Vargas foi finalmente obrigado a renunciar ao cargo, em 29 de outubro de 1945, pelos generais Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, recém-convertidos à democracia. Chegava o fim do Estado Novo.
Com a saída de Vargas, novos ares despontaram no céu brasileiro, e já em 02 de dezembro do mesmo ano, foram realizadas as eleições para presidente da República, deputados federais e senadores, sendo eleito o General Eurico Gaspar Dutra como o novo presidente do Brasil.
No que se refere às eleições municipais, que também estavam suspensas desde 1937, realizou-se a escolha de candidatos tanto para prefeito quanto para vereadores em eleição realizada no dia 09 de novembro de 1947, com posse prevista para 1º de janeiro de 1948.
Como prefeito municipal, elegeu-se a figura do Sr. Antonio Stocco, do PSP. Já para ocupar as vagas do Legislativo Municipal, que na época contava com 23 cadeiras, apresentou-se 102 candidatos, inclusive quatro mulheres: Graciema Ramos da Silva (PSP), Dirce Geraldo Lopes (PTN), Neuza Moraes (PTB) e Guiomar de Oliveira (PSB).
Dentre os 23 vereadores eleitos, tivemos um fato inédito em nossa cidade: a eleição da primeira vereadora do sexo feminino, a professora Graciema Ramos da Silva.
Vargas em Catanduva
Com a saída de Vargas do poder presidencial, este passou a ser ocupado pelo General Eurico Gaspar Dutra, que assumiu em 31 de janeiro de 1946. Seu governo foi conservador e pôs em prática uma política de contenção das reivindicações trabalhistas e de apoio quase incondicional aos EUA.
Durante o governo do presidente Dutra, Getúlio Vargas, que não teve seus direitos políticos cassados, foi eleito senador pelo Rio Grande do Sul.
Em 1950, decidiu candidatar-se à presidência da República, pelo PTB, que utilizava o slogan de campanha “Ele Voltará!”
Contava na época com 68 anos de idade, mesmo assim percorreu todas as regiões do Brasil, em campanhas eleitorais, pronunciando do dia 09 de agosto a 30 de setembro, em 77 cidades, discursos nos quais relembrava suas obras nas regiões em que discursava.
Esteve em Catanduva no dia 13 de setembro de 1950, acompanhado do governador Adhemar de Barros e de Lucas Nogueira Garcez, Erlindo Salzano e Cezar Lacerda de Vergueiro, candidatos, respectivamente, a governador, vice-governador e a senador por São Paulo.
A visita se realizou em uma quarta-feira, e houve grande concentração de uma multidão de pessoas na Praça da República.
O ilustre visitante desembarcou no Aeroporto da Estrada de Catiguá, onde se organizou um extenso cortejo de automóveis, indo à frente do carro aberto as autoridades que eram chamadas quando de sua passagem.
Ao chegar na rua Alagoas, iniciou-se o grande estampido de fogos de artifícios, num matraquear contínuo, até que Vargas chegasse ao palanque.
Getúlio foi recebido por grande alvoroço popular, que adoravam o ex-presidente e tinham orgulho de gritarem seu nome, erguer os braços e lançaram os mais calorosos aplausos.
Várias foram as pessoas que utilizaram a palavra, com destaque para o próprio senador, que expressou o desejo antigo de visitar Catanduva, cidade que conhecia de nome há anos.
Naquele ano, Getúlio Vargas conseguiu ser eleito presidente do Brasil, e teve, aqui em Catanduva, uma votação de 3.385 votos.
Os últimos anos de vida
Com a eleição em 1950, Vargas voltava, através do voto popular, a ocupar o cargo de presidente da República, eleito com 48,7% dos votos, afirmando ter voltado ao cargo “nos braços do povo”. As principais ideias de seu governo eram de cunho nacionalista, voltadas para o desenvolvimento da indústria nacional.
Em 1953, o alto custo de vida e a inflação começaram a gerar instabilidade no governo. A situação desagradava à classe média, mas afetava principalmente os trabalhadores. As críticas de oposição à política nacionalista de Getúlio se intensificaram e surgiram denúncias de corrupção no governo.
A oposição decidiu então pedir o afastamento do presidente. Os ataques mais contundentes partiam de Carlos Lacerda, jornalista e político que ganhou rápida projeção na UDN. No dia 5 de agosto, Lacerda sofreu um atentado no Rio de Janeiro e ficou ferido no pé. No episódio, morreu seu segurança, o major da Aeronáutica, Rubens Vaz da Costa.
Durante as averiguações, descobriu-se que o mandante do crime era o chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas, Gregório Fortunato, que também mantinha estreita ligação com o mundo do crime. Os resultados da investigação provocaram a indignação geral e surgiram numerosas manifestações exigindo a renúncia do presidente. Café Filho, o vice-presidente, aliou-se à oposição e, em discurso no Congresso, propôs que ele e Getúlio renunciassem.
Na noite de 23 de agosto, o presidente reuniu seu ministério para discutir a crise. Tentou resolver o impasse, sugerindo seu afastamento temporário do cargo, a título de licença, mas os militares recusaram a proposta e insistiram na renúncia. No dia seguinte, Getúlio trancou-se em seu quarto, no Palácio do Catete, e cometeu suicídio.
Deixou uma carta em que afirmava: “(...) E aos que pensam que me derrotaram, respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço de seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo a caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”.
Jornal A Cidade e a morte de Vargas
No que diz respeito à morte de Vargas, um jornal de Catanduva também viria a entrar para a história como sendo o primeiro jornal do mundo a noticiar a morte do ex-presidente, ocorrida em 24 de agosto de 1954.
De acordo com o jornal A Cidade, de 24 de agosto de 1983, este nos traz que “[...] cerca das duas horas da manhã do dia 23 para 24 de agosto (de 1954), os serviços de redação deste matutino estavam prestes a ser fechados. Todavia, as notícias precedentes do Rio de Janeiro nos davam conta de que a situação no Distrito Federal não era boa e que um afastamento do presidente Vargas, da chefia do governo, era inevitável. Foi, então, que o jornalista Onélio de Freitas, então redator desta folha, prevendo um golpe de estado ou uma solução ilegal, resolveu aguardar os acontecimentos, que culminaram com o afastamento de Getúlio Vargas e ao depois, o seu suicídio com um tiro de pistola no coração e o encontro de sua carta, tida, até hoje, por alguns historiadores, apócrifa. [...] Este matutino foi o primeiro do mundo, diga-se de passagem, a dar o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em edição normal. Foi, pois, um furo internacional. Meia hora depois quando o “Nacional do Rio” divulgou o fato, em edição extraordinária às 8:05 horas, o jornal já estava sendo distribuído no centro da cidade e em nossa região, que vivia sob um sistema de racionamento de energia elétrica, portanto, sem ligação com o restante do país, submergido, também, dentro da ineficiência do seu sistema telefônico. [...]”.
Fonte de Pesquisa
- Boletim Só 10, ano VI, nº 66, de junho de 2011, produzido pelo professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli.
- Jornal A Cidade, de 24 de agosto de 1983.
- Material pesquisado no acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino
Foto: Em 1950, Getúlio Vargas decidiu candidatar-se a presidente da República e esteve aqui em Catanduva realizando comício, no dia 13 de setembro de 1950. Nesta foto, do mesmo dia, tirada na casa do Sr. Francisco Galli, temos, da esquerda para a direita: Arthur Barbosa do Espírito Santo, José Solfa, Antônio do Espírito Santo, Getúlio Vargas e Miguel Montes.
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