Germano Braga Bianchini – muito mais do que um amigo

Tópico I – A confraternização - Era o dia 20 de dezembro de 2024, há cinco dias do Natal. Todos do clube do bolinha com as esposas estavam reunidos no restaurante Mandarim, para um jantar de confraternização, como ocorre em todos os anos. Duas cadeiras estavam vazias – a do Germano e a da Rachel, que não se sentiam bem e ficaram em casa, um cuidando do outro. Naquela noite, os homens convencionaram fazer o bolinha no Guarujá no final de semana do dia 09 de janeiro. O surto de vírus nas praias fez o grupo mudar o destino para o rancho que fica na fazenda do Val, em Aparecida do Taboado – um lugar que o Germano adorava ficar e ele estava se preparando para ir. Estava até escalado para fazer um frango caipira na panela, que era uma das suas muitas especialidades. O teste positivo para Covid na esposa de um companheiro do grupo ensejou o adiamento dessa viagem. Talvez foi a mão da providência divina atuando, porque no dia programado para a saída, o Germano sentiu-se mal à noite e imediatamente foi levado ao hospital com o diagnóstico de AVC. Na sexta-feira, com o lado direito do corpo paralisado, teve alta para se restabelecer em casa(!) e, na manhã desse dia foi a última vez que nos falamos, sendo que a sua última palavra foi “obrigado”, ao saber que o clube do bolinha estava rezando pela sua rápida recuperação para, assim, realizar a pescaria adiada. À noite, na mesma sexta-feira novamente sentiu-se mal e teve que retornar ao hospital, desta feita, porém sendo levado diretamente à UTI onde teve que ser entubado diante do agravamento do quadro. Esse é o cenário da sua vida nos dezoito últimos dias até a sua viagem no último dia 29, para os planos do Senhor, aos 77 anos. Tópico II – Mais de quatro décadas de convivência - Conheci o Germano logo no início do clube do bolinha, no primeiro ano da década de oitenta, numa sexta-feira, na lanchonete Barril, que existia na Av. José Nelson Machado, onde hoje é uma garagem de veículos seminovos. À época, somente eu e Luiz Goldoni (in memoriam) nos reuníamos todas as sextas-feiras das 18h30 às 21h00, em alguma lanchonete, bar, restaurante ou pizzaria da cidade, embora na origem éramos três (Sérgio Vieira ficou por pouco tempo). Não demorou muito e o Germano juntou-se a nós. Tempo depois, o Wilson Cazelato que logo em seguida trouxe o Fuad Bauab (in memoriam) que, por sua vez, apresentou o Nelson Lopes Martins (não mais participa do grupo). Pouco depois o Paulinho Simões passou a participar, vindo a seguir o Roberto Gimenes, o Val Rossi e finalmente o Zezé Bueno. A história do clube foi contada no artigo “Clube do Bolinha - Três já se foram” publicado no jornal “O Regional” em março de 2019. História à parte, fato é que, desde então nos tornamos amigos e as famílias também. Foram inúmeras viagens juntos com as esposas, até mesmo ao exterior e tantas outras só os homens – pescarias, Copa América no Chile, Argentina, Peru e Estados Unidos. Na Copa do Mundo de 1994 nos EUA, o Germano estava relutante em participar, então tive que usar de um golpe baixo para convencê-lo a viajar. À época, disse a ele: – conhece o fulano? (era um conhecido próximo de nós dois). Ele respondeu – Sim, mas o que que tem? Eu disse – teve diagnóstico de câncer em estágio avançado. E completei – E você, tá esperando o que? Vamos aproveitar a oportunidade e viver a vida.” E, foi assim que ele viajou para os Estados Unidos, a primeira e única vez. Conheceu San Francisco, Sunnyvale, Santa Clara, Palo Alto, Los Angeles, inclusive a Disney World, San Diego e Las Vegas. Em 2010 o grupo com as esposas viajou para a Europa e o meu aniversário de 60 anos foi comemorado em Barcelona, com a presença de todos. Bons tempos! O Germano era franco, leal, autêntico, direto e, às vezes “brabo”, como todo bom descendente de italiano. Blasfemava e soltava um sonoro palavrão quando os amigos propositadamente o provocavam. E todos sabiam muito bem como provocá-lo! No entanto, era um ser humano extraordinário, sempre disponível em ajudar e o maior amigo dos seus não muitos amigos. Nos momentos difíceis era o primeiro a chegar e o último a sair. Um cara ao qual você poderia confiar um talão de cheques assinado em branco e viajar tranquilamente pelo mundo. Ultimamente vinha se privando de ir ao bolinha para ficar com a Rachel, mas também por conta da dor crônica e intensa na planta dos dois pés que o incomodava há mais de uma década. Todos os dias postava uma mensagem de “bom dia”. Sua última participação foi no Castellana, onde o clube tem uma mesa cativa, na sexta feira do dia 29 de novembro, quando o time estava completo. Aquele momento está imortalizado numa foto que, revelada foi entregue a cada um dos participantes, inclusive à Rachel. O Germano era o tiozão de quase todos os muitos sobrinhos que eram sempre acolhidos de coração e braços abertos quando precisavam de um conselho, suporte, um ombro amigo, principalmente nos momentos de dificuldades ou de indecisão. A advocacia exercida por ele no início da vida profissional e por algum tempo não resistiu ao fascinante mundo dos ventiladores que o arrebatou, sendo um dos pioneiros da cidade no ramo, mantendo-se em atividade até os últimos dias seus. Foi um dos fundadores do extinto Rotary Club de Catanduva – Sul e presidente da ACE no biênio 2008/2009. Gostava de pescar e era amante do futebol, tendo o Corinthians como o seu time de coração. Tópico III – Despedida - Na segunda internação constatou-se um AVC que atingiu o tronco cerebral e, em consequência sua morte também cerebral foi inevitável. Após dezoito dias, deixou esse mundo com o semblante sereno e tranquilo como se dormindo estivesse, consciente da missão terrena cumprida. Difícil encontrar palavras para reverenciar a sua memória e seus feitos, porque, as palavras, por mais significativas e abrangentes que sejam, estão longe de expressar a verdadeira importância do seu legado, porque legado não é o que se deixa para as pessoas, mas o que se deixa nas pessoas e, ele soube como ninguém, fazer essa diferença. E, aqui faço minhas as palavras da amiga Silvia Stefane Fonseca – “Infelizmente o tempo tem o poder de tirar do nosso convívio essas pessoas tão especiais, que deveriam viver para sempre ensinando com seu exemplo.” Vá em paz amigo, com certeza há uma nova missão que Deus certamente reservou para você. Você se foi, no entanto sem nunca ter ido, porque, além de inesquecível estará eternizado no coração daqueles que aprenderam a admirá-lo e a amá-lo. Ademais, como disse Léo Batista – “Só morre de verdade quem nunca mais é lembrado.” Quem sabe agora você lidere o bolinha II no outro plano, juntamente com o Fuad Bauab, o Luiz Goldoni e também o Francisco Fernandes que, não tendo mais viagens de avião, poderá ser mais assíduo. Saiba amigo que este é um artigo que eu jamais gostaria de escrever, mas o faço para perpetuar a sua memória nos registros da história, porque no coração você será sempre eterno. Como já escrevi um dia – Sem a sua presença física, ficará apenas a saudade que, de agora em diante, passará a ser a presença da sua ausência.
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