Garota Interrompida

O filme Garota Interrompida tem como base o livro autobiográfico de Susanna Kaysen, uma portadora do Transtorno de Personalidade Borderline que é internada num hospital psiquiátrico dos anos 60 por tentativa de suicídio. Todos nós apresentamos momentos de explosões de raiva, tristeza, impulsividade, teimosia, instabilidade de humor, ciúmes intensos, apego afetivo, desespero, descontrole emocional, medo da rejeição, insatisfação pessoal. Porém, quando esses comportamentos disfuncionais se apresentam de forma frequente, intensa e persistente, eles acabam por produzir um padrão existencial marcado por dificuldades de adaptação do indivíduo ao seu ambiente social, denominado Transtorno de Personalidade Borderline.

Borderline é uma palavra inglesa que significa fronteiriço, ou refere-se à linha que compõe a margem. Essas pessoas vivem no limite de uma hemorragia emocional, porque sangra a alma e, não raro, o próprio corpo. Também cruzam outras fronteiras, margeando diversos transtornos mentais como: transtornos de ansiedade, estresse pós-traumático, depressão, ciclotimia, bipolaridade, TDAH, entre outros. Mas é importante ter em mente que a personalidade borderline é um jeito de ser que está presente desde sempre em sua vida e não se limita a fases como nos outros transtornos citados, além das alterações de humor de estarem diretamente ligadas a acontecimentos imediatos como frustrações, rejeições e contrariedades.

Pelo seu excesso de sentimentos, os borders percebem a realidade com tons exacerbados, seja em situações que geram emoções positivas ou negativas, desencadeando explosões de raiva, tristeza, impulsividade, teimosia, instabilidade de humor, ciúmes intenso, apego afetivo, descontrole emocional e insatisfação pessoal.

Em relação à sua própria identidade, os borderlines apresentam-se muito instáveis, sentem-se sempre incompletos ou em constante conflito consigo mesmos. Por essa razão, vivem uma busca desesperada para encaixar-se em algum tipo de estereótipo, como roqueiros, veganos ou esportistas.

Existe uma espécie de dégrade dentro do conceito do transtorno borderline, onde alguns podem ter as mesmas características que determinam o diagnóstico e, no entanto, manifestá-las de forma aparentemente oposta.

Os borders apresentam um comportamento extremamente infantil e egoístas nas conexões afetivas. Apegam-se ao outro para suprir a necessidade de serem importantes para alguém. Podem submeter-se a parceiros abusivos e deles suportarem tudo com o único intuito de não serem abandonados, pois não lidam bem com o término de relacionamentos, chegando até à tentativa de suicídio quando isso acontece.

Para amadurecer os borders precisam entender que as relações de amor podem e devem ser duradouras, mas, para isso, o amor precisa ser trabalhado e cuidado como um processo em constante movimento e construção. Amadurecer também implica em abrir mão de falsas e infantis expectativas.

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp