Fuga e permanência: a arte do recomeço

“Não existe meio mais seguro para fugir do mundo do que a arte, e não há forma mais segura de se unir a ele do que a arte.” 

Johann Goethe 

Polímata, escritor e estadista alemão (1749-1832). 

 

O autor do famoso romance 'Os sofrimentos do jovem Werther' e da clássica peça teatral 'Fausto', entre outras importantes publicações, foi sensato em sua definição sobre arte e importância dela para o ser humano. 

Já mencionamos, reiteradas vezes, o quanto a arte foi importante no período pandêmico, de recolhimento social, renovando as energias, aliviando as tensões, proporcionando momentos mais leves diante do caos que assolou o planeta. Música, artes cênicas, documentários, dança, poesia, múltiplas encenações virtuais possibilitaram o acesso à cultura literalmente na palma da mão através de um simples celular ou demais tecnologias, graças a internet. 

O mundo que nos assustava naquele momento gerou uma fuga da realidade e a arte estava lá, pronta para exercer seu mais precioso papel: permitir a viagem ao imaginário, de forma sensivelmente criativa, com suas mais variadas nuances. Sim, foi uma fuga da realidade que oprimiu, que nos cercou de fantasmas diversos em torno do nosso futuro. 

Pois bem, passou.  

Agora, presenciamos o retorno à realidade e a arte vem de encontro à fome, ao grito de esperança do homem. Escolas, instituições, a sociedade como um todo tem buscado eventos e ações culturais que nos reintegrem ao mundo.  

Exatamente o que asseverou Goethe: não há forma mais segura de se unir ao mundo do que a arte. 

Como é bom vivenciar isso, nessa retomada. 

Vemos nas escolas, teatros, praças, olhos que brilham, semblantes que descansam diante da luz, da emoção, do riso, da intensidade das apresentações artísticas! Uma experiência renovadora e única compartilhada por pessoas ávidas de cultura, de humanidade, de sensibilidade contra a barbárie. 

Necessário, porém, que novas políticas culturais surjam para preencher as lacunas que permanecem nesse processo, pois há muito mais o que fazer, principalmente em nossa cidade e região que têm uma demanda enorme, com inúmeros artistas prontos para mostrarem suas obras e não podemos restringir ações limitadas em objetivos políticos e pessoais. 

Como afirmou o ator Hilton Cobra, o Sesc substituiu o Ministério da Cultura destruído pelo atual governo. Aliás, foi o Sesc Catanduva que trouxe o grande ator na última semana ao Teatro Municipal Aniz Pachá, com seu belo e necessário espetáculo 'Traga-me a cabeça de Lima Barreto', aplaudido calorosamente de pé pelo público presente. 

Principalmente no estado de São Paulo, capital e interior, como também em todo o país, o Sesc consegue de forma abrangente, democrática e inclusiva reunir todas as tribos, todo tipo de público, sem quaisquer restrições, trazendo a vida de volta à realidade, contudo dentro das mais diversas possibilidades artísticas. 

E por falar em Sesc, a Cia da Casa Amarela apresentará o projeto 'Recontando Contos: Histórias com Caminhos', com os personagens Édith e Charlôt, durante todo o mês de outubro. São contações de histórias para os pequenos, revisitando grandes clássicos da literatura mundial, como 'João e Maria', 'O Mágico de Oz', 'João e o Pé de feijão', entre outros. E o primeiro acontece hoje, dia 01, às 15h, com a 'Pela estrada afora... (Chapeuzinho Vermelho)'. O evento é gratuito e acontece no Espaço de Brincar. 

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.