Freud nunca explicou...

 

Há 82 anos, morria em Londres, Sigmund Freud, autor de teorias que revolucionaram a psiquiatria, a psicologia e o entendimento da mente e do inconsciente. Ele nasceu em 1856 numa cidade que era da Áustria, Freiberg, mas que hoje pertence à República Tcheca com o nome de Pribor. Planejava estudar direito mas ingressou na faculdade de medicina de Viena. Interessava-se bastante por neurofisiologia, filosofia e zoologia. Recebeu influências de professores darwinistas com forte atuação em pesquisa. 

Inspirado pelos ensinamentos do psiquiatra francês Charcot, percebeu que o paciente sempre tem algo a dizer. Ao despertar no paciente o desejo de ser escutado, possibilitava o aparecimento de um desejo encoberto pelo sintoma. Este é o ponto de partida para a prática da psicanálise. Onde for possível falar e escutar, ali está o inconsciente pronto para ser recuperado. Em tempo: o médico escutar e o paciente poder falar é um pilar não só da psiquiatria, mas de toda a medicina. 

A obra de Freud é extensa, mas cito suas principais teorias tais como o processo do pensamento, a teoria da representação, a separação do inconsciente em Id, Ego e Superego, mecanismos de defesa, estudos sobre a libido, mecanismos de transferência e interpretação dos sonhos. 

Sofreu muitas críticas e preconceito de boa parte da comunidade científica. Acusavam suas teorias de pseudociência por não ser possível comprová-las pelo método científico. Alegavam que os pacientes eram sugestionáveis e refletiam a opinião do analista. Isto acabou impedindo que ele fosse laureado com um Prêmio Nobel, apesar das 11 indicações para o de medicina e uma para o de literatura. 

Os nazistas faziam fogueiras em praça pública para queimar seus livros. Com ironia, Freud escreveu a um amigo: “Veja que progresso da civilização, em outros tempos teriam me levado à fogueira, hoje se contentam em queimar meus livros”. Escapou por pouco de ser enviado para os campos de concentração em 1938. Antes de partir, a Gestapo exigiu a assinatura numa declaração de que ele havia sido tratado com cortesia. Novamente, a ironia de Freud se fez presente: “Recomendo calorosamente a Gestapo a qualquer um.”, escreveu. Morreu um ano depois por um tumor de cavidade oral operado 33 vezes. 

Muitos dos seus seguidores e contestadores elaboraram outras teorias psicanalíticas, mas sempre retornavam às teorias freudianas. Entre os leigos, é comum ouvir a frase leviana e pejorativa “Freud explica”. Já ouvi diversas vezes esta frase e em todas as oportunidades nunca consegui associar com qualquer que fosse dos escritos dele. 

Freud era um gênio. Desvendou muitos dos mistérios da mente humana que até hoje não foram completamente explorados. Acredito que a raça humana chegará em Marte antes disso acontecer!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.