Following

Escritor em início de carreira, Bill (Jeremy Theobald) adquire o estranho hábito de seguir desconhecidos nas ruas, como forma de aguçar sua criatividade e assim criar novos personagens. Até que segue um ladrão, que o convida a roubar residências com ele.

O inglês Christopher Nolan ganhou, esse ano, seu primeiro Oscar de diretor, pelo filme ‘Oppenheimer’ (2023), que foi sensação de público na temporada de 2023. Também ganhou o Oscar de melhor filme pelo longa que conta a história do criador da bomba atômica, sem contar as outras sete indicações na Academia, entre roteiro original, direção e melhor filme, por ‘Amnésia’ (2000), ‘A origem’ (2010) e ‘Dunkirk’ (2017). Nascido em 1970, Nolan faz filmes desde o finzinho dos anos 80 – iniciou a carreira aos 19 anos, com curtas experimentais na faculdade, até chamar a atenção de diretores e do público com seu primeiro longa, ‘Following’ (1998), aqui no Brasil traduzido como ‘Seguinte’, um título em português cheio de duplos sentidos. Um filme de poucos recursos, bem experimental e cheio de criatividade.

Sem ser formado em cinema – Nolan formou-se em Literatura na Universidade de Londres, tinha noções de estética e gravação; para ‘Following’, reuniu um orçamento mísero de U$ 6 mil, um dos mais baratos da história do Cinema, e realizou um feito inédito, uma fita instigante de drama e suspense, de apenas 69 minutos de duração, toda em preto-e-branca, rodada na casa de amigos em Londres. Foi o primeiro filme da Syncopy, produtora que fundou Nolan com sua esposa, Emma Thomas, que aparece aqui aparece como atriz se se tornaria produtora de seus trabalhos. Rodou o filme em película com uma câmera portátil simples, a partir de uma ideia que ele mesmo vivenciou – sua casa foi invadida e destruída por bandidos, e na história um rapaz que segue pessoas na rua acaba se tornando parceiro de assalto de um criminoso. Parte do elenco Nolan chamaria depois para ‘Batman Begins’ em papeis pequenos, como Jeremy Theobald, Lucy Russell e John Nolan, seu tio.

Em ‘Following’, Nolan escreve, dirige, produz, faz a fotografia e a montagem. Um cinema bem autoral. Ele demorou um ano pra gravar, pois captava as cenas nos fins de semana, já que todos do elenco trabalhavam e ninguém era do cinema.

‘Following’ é um noir moderno, com 30 tempos na história – entre flashbacks desdobrados e vários momentos do presente. Como já era um conhecedor de cinema, Nolan traz referências aos montes, como posteres emoldurados no interior das casas com clássicos, como ‘Crepúsculo dos deuses’. Apresentado no Festival de Toronto e premiado no Festival de Rotterdam, o filme merece ser descoberto pelos cinéfilos.

Disponível em DVD e Bluray pela Classicline, também lançado pela distribuidora num box em bluray chamado ‘Código Nolan’, com outros dois filmes dele, ‘Amnésia’ e ‘Insônia’.

Todo diretor tem um começo, muitos deles um começo com filmes pequenos, de festivais, desconhecidos. Nolan é um deles, e se transformou num realizador notável, com filmes ousados, criativos e com uma estética moderna.

Following (Idem). Reino Unido, 1998, 69 minutos. Drama/Suspense. Preto-e-branco. Dirigido por Christopher Nolan. Distribuição: Classicline

Autor

Felipe Brida
Jornalista e Crítico de Cinema. Professor de Comunicação e Artes no Imes, Fatec e Senac Catanduva