Falta de vacina: difícil de engolir
Todo governante reclama que o setor público é burocrático, que o processo de licitação é moroso, que muitos certames acabam em litígio e que isso justificaria certos atrasos em obras, serviços e produtos. Quem está de fora, por outro lado, sempre contesta e aponta a falta de planejamento e organização como verdadeiros culpados por tais fatos, no sentido de que se o gestor soubesse organizar prioridades e fazer as coisas com antecedência, não enfrentaria tais problemas. Independentemente de qual lado está correto, é quase incompreensível o fato de que quase 65% dos municípios brasileiros tenham vacinas em falta em seus estoques e que, a exemplo de Catanduva, tenham que usar um tipo no lugar do outro para manter a proteção de sua população. As justificativas para alguns casos existem, mas nem sempre convencem. Por exemplo: a vacina para varicela está em falta, ainda que o Ministério da Saúde diga que se trata de questão pontual e que lotes adquiridos no final de 2023 tenham entrega prevista até setembro. Quanto à oferta da Meningo C, também vista em Catanduva, não há sequer justificativa em nota divulgada pelo órgão federal, que recomenda apenas a substituição pela Meningo ACWY, de mesma eficácia, tal como a Secretaria Municipal de Saúde vem fazendo. Segundo o ministério, foram distribuídas aos estados 65,9 milhões de doses das dez principais vacinas citadas pelo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), incluindo a de covid-19, com 22,9 milhões de doses aplicadas até o momento. O órgão reforça, por isso, que não há falta generalizada de vacinas no Brasil, mas provavelmente não se aventuraria a discutir o que motivou as tais “questões pontuais”, se os quantitativos não estão adequados – sobrando em uns locais e faltando em outros, ou se a utilização – lá na ponta da cadeia – não está correta. Esse cenário faz com que todo o esforço pela conscientização sobre a importância da vacinação tenha uma dificuldade a mais: como explicar para o cidadão por que algo tão importante, como se diz, está em falta há meses no postinho do seu bairro, sem que ninguém faça nada?
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