Exagerado
Há 40 anos, Agenor de Miranda Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza (1958 – 1990), lançou o primeiro álbum solo de sua carreira, “Exagerado”. Ele tinha acabado de se desligar da banda que o lançou, o Barão Vermelho. A saída foi conturbada. Cazuza tinha se manifestado ao grupo que desejava seguir uma carreira solo. O acordo é que gravasse seus discos, mas sem sair da banda. No entanto, ele anunciou a separação ao término de um show. Foi traumático. Rompeu amizade com seu grande amigo, Frejat (retomada em 1988). Cazuza dizia: “sou muito egoísta, não divido nada, as atenções e muito menos o palco”. Nesta mesma época, começou a ter febre diariamente, decorrente da AIDS.
Cazuza tinha origem “nobre”. Filho único, sua mãe, Lucinha Araújo, tinha sido cantora. Seu pai, João Araújo, era produtor musical e foi o fundador da gravadora da Rede Globo, a Som Livre. João era craque! Foi o responsável por lançar artistas como Emilio Santiago, Djavan, Gilberto Gil, Novos Baianos, Guilherme Arantes, Lulu Santos, Nara Leão, Rita Lee, Ronnie Von, Xuxa, a banda Barão Vermelho e o próprio filho.
1985 foi um ano agitado na política brasileira. Em janeiro tinha acontecido a primeira eleição para presidente da república após o fim do regime militar. A eleição indireta de Tancredo Neves, no dia 15, coincidiu com uma das apresentações do Barão Vermelho no primeiro Rock in Rio. Aproveitou a deixa para se manifestar politicamente. Cazuza sentia que o trabalho em grupo o restringia. Queria mais liberdade para compor e se expressar. Tinha grande habilidade para combinar música e poesia. O resultado foi o disco “Exagerado”, cuja faixa-título foi composta em parceria com o cantor e compositor Leoni (Kid Abelha, Heróis da Resistência). É considerada sua canção mais autobiográfica.
Ele levou para este álbum algumas das músicas que tinha composto para o Barão Vermelho. Além da faixa-título "Exagerado", estavam nesta condição "Balada de um vagabundo", "Mal nenhum", “Boa vida”, “Rock da descerebração”, "Só as mães são felizes" e "Codinome beija-flor". Esta última foi composta durante a estadia de Cazuza no hospital, por conta de uma pneumonia, onde beija-flores apareciam na sua janela. Curiosamente, os exames para detecção do vírus do HIV não tinham a precisão atual e o primeiro exame para a doença deu negativo. Fazem parte deste álbum “Medieval II”, “Cúmplice” e “Desastre mental”. O álbum tem a duração de 36 minutos e sete segundos e embora, tenha ganhado um disco de ouro por vender 100 mil cópias, foi o que menos vendeu na sua carreira. O mais vendido foi “O tempo não para” (1989) que vendeu 1,8 milhões de cópias.
Aclamado como o poeta de uma geração, Cazuza era um exagerado no amor, na vida e na morte. Para ele, era tudo ou nunca mais. Exagerado. Resumo de toda uma vida!
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