Eu me separei. E agora?

Viver a separação amorosa envolve um rito de passagem. É algo marcante em sua vida e nada será como antes. Ou talvez, quem sabe, será melhor que antes.

Separar-se de um parceiro ou parceira conjugal envolve uma transição que poderá ser completa, digamos assim, quando a sua nova identidade for encontrada. A identidade de casal foi perdida e é para isso que você está vivendo a crise da separação: para separar-se dessa pele até que uma nova se forme em você. Muitas cicatrizes provavelmente serão feitas neste período, sem contar os outros arranhões adquiridos durante vida que se juntam a este momento, aproveitando-se da situação de fragilidade emocional, quando há muita reflexão e constante reavaliação.

Isso vem incrementar ainda mais a tensão e pressão pertinente a essa fase de desligamento emocional da identidade de casado(a), confundindo ainda uma sobrecarga de sentimentos antagônicos e aspectos da história de vida de quem passa pelo luto da separação. E muitas dessas coisas dizem respeito às carências pessoais, mais do que à separação em si.

Adquirir uma nova cara para o mundo torna-se, então, a grande questão. Nem todos conseguem desligar-se facilmente da identidade de pessoa casada. A ambiguidade passa a existir no comportamento. Ora você se dá conta das vantagens da separação, e resolve investir no afastamento. Ora busca a todo custo manter algum o laço com o ex-cônjuge.

Aceitar a realidade é fundamental para buscar coerência de pensamentos, atitudes e emoções. Aquele que sucumbe diante da própria crise acaba não saindo do lugar. É um náufrago inconformado com a perda.

Para outros, a separação é vivida como uma permissão para seguir uma nova vida afetiva. Mas muitos ao perceberem as dificuldades inerentes a esse processo, buscam na figura do ex-companheiro(a) o apoio e a segurança perdidos. O engate com a figura do parceiro continua vivo e o grau de dependência quanto mais forte, maior a confusão e a tortura geradas pela solteirice.

Aos homens é frequente o ressentimento quando a ex-mulher procura reestabelecer-se em sua nova vida e vive muito bem sem ele, principalmente quando tem um namorado. Há os que se sentem explorados e outros tentam continuar mostrando sua presença, oferecendo tudo. Outros, por sua vez, mostram a falta que fazem negando o recurso financeiro.

Para as mulheres, a dificuldade maior reside em conseguir levar adiante a organização e a estrutura da família, agora prioritariamente em suas mãos. Por isso é comum sentirem a sobrecarga. Outras adquirem uma nova compreensão de sua solidão e não buscam fazer o papel de coitadas diante do ex-marido.

Quanto mais rápido compreende que sua vida não é responsabilidade do ex-marido e que os filhos, sim, estão sob responsabilidade mútua, maior o seu crescimento e satisfação pessoais.

É preciso enfrentar a crise. A morte de um casamento, de uma parceria, de um sonho de família e de muitas outras coisas que estavam envolvidas é um golpe muito forte. Olhar para si mesmo tem sido o trabalho mais difícil para quem se separa. É mais fácil responsabilizar o outro pelo drama. Mas a responsabilidade é de ambos. Perguntar-se: como contribui para o casamento chegar ao fim? Esse saber ajuda a dar voz a inúmeros sentimentos.

 

Ivete Marques de Oliveira

Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp

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Artigos de colaboradores e leitores de O Regional.