Esperança do Verbo Esperançar

Esperança é o sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja. Não é apenas uma virtude, é a possível concretização diante da pulsão de vida que nos anima a ter ideias e não desistir, que nos dá capacidade para criarmos sentido e superarmos as dificuldades.

Antoine de Saint-Exupéry no livro “Terra dos Homens” narra a aventura de seu amigo Guillaumet surpreendido por uma tempestade de neve que derrubou seu avião e o deixou perdido nas montanhas dos Andes. Sozinho, ele não tinha nenhuma referência para sair daquela situação de desespero, e depois de dias caminhando sem saber por onde estava indo, sua vontade era de se proteger do frio e desamparo, mergulhando na noite de um sono sem fim. Quando o desânimo estava prestes a vencê-lo ele dizia a si mesmo: se minha mulher pensa que estou vivo, ela imagina que estou caminhando. Sete dias depois ele foi encontrado ainda com vida e confessou: o que me salvou foi ter tido a coragem de dar sempre um passo a mais, o mesmo passo com que sempre se recomeça: esperança não é esperar, é caminhar e dar sempre um passo adiante com o qual tudo se recomeça, é o caminho.

No trabalho de Freud sobre “Luto e Melancolia”, com o intuito de ressaltar um aspecto de sua problemática, mostrar que a dor da perda no luto se diferencia daquela que domina a melancolia exatamente porque no luto a dor da perda é sustentada pela esperança, enquanto que na melancolia ela é vivida na ausência da esperança e na dor do desamparo, o princípio fundamental do funcionamento psíquico e da estruturação da subjetividade com a esperança, pulsão de vida (Eros) e a desesperança, pulsão de morte (Tanatos), estará sempre atrelada ao caminho da individualidade, de como o sujeito se comporta diante de suas pulsões, onde uma visa a unidade e tem esperança, enquanto que a outra visa a destruição e tem desesperança.

Um dos grandes conflitos que ameaçam não só a vida psíquica, mas toda a vida em sociedade, é o conflito entre a esperança e a desesperança. Diante de tantas dificuldades, observar como Freud nos escreveu em “O Mal Estar na Cultura”, nos faz pensar que só nos resta esperar que o eterno Eros desdobre suas forças para se afirmar na luta com seu não menos imortal adversário. Neste campo de luta, entre o “não mais” que será instalado pela morte e o “ainda não” que se abre como tempo da vida, o homem é um peregrino, e seus pés não se cansam de criar novos caminhos porque seu destino é caminhar, e sua alma está sedenta de esperança. O que não podemos alcançar voando, fazemos mancando, mas continuamos caminhando.

O trabalho da cultura é permanentemente solicitado para dar conta do resto, esta que deveria nos remeter a uma constante produção de significados que caracterizam a atividade humana.

A esperança permite que transbordemos para que possamos ir além para conseguirmos enxergar o horizonte que nos espera. Esperançar é almejar, sonhar, agir, buscar.

Sonhos sustentados pela

esperança não se desmancham

como se fossem quimeras ou puras miragens.

Na busca de realiza-los,

caminhamos na esperança

de alcança-los!

Autor Desconhecido

 

Este texto foi escrito ao som da música “Hold On” de Santana.

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br | Foto: Renato F. de Araujo @renatorock1 ©