Em busca do Oscar perdido: “Ainda Estou Aqui”
Em 1998, o aclamado filme nacional Central do Brasil, de Walter Salles, levou a atriz Fernanda Montenegro a concorrer, pela primeira vez, a um inédito Oscar de melhor atuação, mesmo considerando a língua. Deu o esperado, e a ganhadora foi Gwyneth Paltrow, no esquecível Shakespeare Apaixonado. Mas as coisas mudaram muito desse então, com inúmeros filmes de língua não inglesa tendo melhores oportunidades (refletindo a busca de Hollywood para manter sua relevância mundial).
Décadas depois, uma nova oportunidade de se fazer justiça surge com o filme Ainda Estou Aqui, cuja provável indicada a melhor atriz será Fernanda Torres, justamente a filha de Fernanda Montenegro.
O filme está em exibição no Grupo Cine, no Shopping de Catanduva.
Vencedor de diversos prêmios internacionais, o filme faz o périplo dos festivais que o levam ao prêmio da Academia, como representante brasileiro a uma indicação no Oscar em língua estrangeira e, também, atriz.
Ainda Estou Aqui, de novo com Walter Salles, adapta o romance de 2015 de Marcelo Rubens Paiva, que conta a história de sua família, quando seu pai, o deputado Rubens Paiva (Selton Mello), foi uma das muitas vítimas da ditadura militar instalada no Brasil a partir de 1964 e que só teve fim, de fato, em 1985.
O filme foca principalmente na figura da mãe, Eunice Paiva (Fernanda Torres) que tem de manter a família de cinco filhos sem o marido e pai. O diretor, ainda adolescente, conviveu com a família. Ele desenvolve um filme com uma narrativa de estilo sóbrio, dividindo o drama da família Paiva em dois momentos: antes e depois da tragédia representada pelo assassinato do deputado, cujo corpo nunca foi recuperado.
Começa na casa da família no Rio, perto da praia do Leblon, com as crianças vivendo um tempo de brincadeiras e despreocupação. Isso acaba no momento da prisão de pai, diante da mulher e dos filhos.
Eunice também foi detida, com a filha mais velha, mas ambas foram liberadas. Ela tem então, de refazer a vida abandonando o papel de dona de casa e, sem poder contar nem mesmo com a conta bancária de Rubens, uma vez que não existe prova oficial de que ele foi morto. Ela vive a angústia e as incertezas de um luto não reconhecido, enquanto luta para formar-se advogada, defensora dos direitos humanos e indígenas em 1980.
Ainda Estou Aqui, com ou sem as indicações ao Oscar, é um daqueles raros filmes que, como Central do Brasil ou Cidade de Deus, revisitam alguns momentos da história do país que, junto com seus defensores, teimam em se repetir.
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