Elvis Não Morreu – A lenda do Rei do Rock

Nos últimos anos, duas cinebiografias de astros da música internacional fizeram sucesso, com algum tipo de versão autorizada: Bohemian Rhapsody (2018), contando a história de Freddie Mercury, do grupo Queen, que rendeu o Oscar de ator a Rami Malek e Rocketman (2019), sobre Elton John, com o Oscar de Melhor Canção Original – ao próprio Elton John.

Como que fechando uma trilogia, estreou esta semana no CineX, em Catanduva, nova cinebiografia que leva o icônico nome de Elvis. O barroco estilo visual do diretor australiano Baz Luhrmann (dos musicais Vem Dançar Comigo e Moulin Rouge) não poderia ser mais adequado ao biografado.

Elvis Presley (Austin Butler) retrata a ascensão meteórica do astro em shows cheios de carisma, sensualidade e rock. O filme retrata a infância e juventude do garoto branco e pobre que cresceu nos subúrbios de Memphis, às margens do rio Mississipi, com sua mãe, ouvindo a música que vinha tanto dos inferninhos dos bairros negros quanto dos corais gospel das igrejas.

Butler está perfeito no papel do Rei do Rock (uma caracterização feita para o Oscar). Como se trata de uma síntese de uma vida intensa e, não raro, polêmica, o diretor acerta ao evidenciar as influências da música negra sobre o estilo de Elvis, no Tennessee, um estado sulista dominado pela segregação racial. “Ficarei rico se descobrir um branco que cante e dance como um negro”, dizia seu empresário.

A ligação de Elvis com a música negra, seu jeito de dançar considerado típico dos artistas negros, as raízes do rock’n roll, contestadoras e rebeldes, nos ainda conservadores anos 50, levaram o músico, de um lado a ser acusado pelas autoridades de obscenidade (a televisão não o mostrava da cintura para baixo) e por outro, mais tarde, de apropriação cultural da música negra.

O filme mostra a ligação de Elvis com os artistas negros que, mais tarde, passaram a ter muito mais espaço no cenário americano, como B. B. King e Little Richard. Por outro lado, o filme não toca muito nos problemas de Elvis com álcool e remédios, que levariam à sua morte décadas depois, mas a trilha sonora é incrível – de Elvis, claro.

O filme foca no conflito do cantor, seus próprios anseios artísticos, e o conservadorismo de seu manipulador empresário, o coronel Parker (Tom Hanks, outro candidato à estatueta) que, como narrador da história, mostra ser uma figura tão intrigante quanto ambígua e com um passado suspeito. Curiosamente, em Forrest Gump (1994), o personagem de Tom Hanks era considerado, de outra forma, o responsável pelo estilo de Elvis...

Elvis começou uma carreira no cinema, com baladas mais tradicionais, após seu período no exército, e seu casamento, aos 24 anos, com a jovem Priscila, então com apenas 14 anos. Hoje herdeira de seu espólio, provavelmente teve influência na maneira como o filme o retrata.

Autor

Sid Castro
É escritor e colunista de O Regional.