E Van Gogh com isso?
“A arte mantém à vista as coisas alegres e agradáveis, pois sabe como é fácil cairmos em desespero.”
Alain de Botton e John Armstrong
Filósofos e escritores, autores do livro “Arte como terapia” (Editora Intrínseca)
Após duas semanas, voltamos à nossa coluna. Foram dias de muitas atividades teatrais em Catanduva e diversas cidades, principalmente em função do mês da criança.
Estamos de volta! Muitos acontecimentos nesse período, contudo, vale discutir algo que vai além dos eventos e toca diretamente em princípios e comportamentos que merecem ser destacados para uma reflexão mais profunda.
No último dia 14 de outubro, ativistas do grupo Just Stop Oil, jogaram sopa de tomate em um quadro da série Girassóis, de Vincent Van Gogh, na National Gallery, em Londres. Felizmente, a obra, protegida por vidro e não sofreu danos. O discurso incluía o questionamento: “a arte vale mais que a vida, mais do que comida, mais do que justiça?”
A notícia é velha, mas permanece o incômodo quanto as atitudes e manifestações diversas e a relação com a arte.
Em julho passado, ativistas italianos colaram as mãos na obra Primavera, de Sandro Botticelli, na Galeria Uffizi, em Florença, Itália, em protesto contra as mudanças climáticas. Os ativistas se sentaram no chão e exibiram uma faixa com o escrito: "última geração, sem gás, sem carvão".
Maio passado, um homem atacou Monalisa, de Leonardo Da Vinci, no Museu do Louvre, em Paris, jogando bolo sobre a obra.
Os ataques a obras de arte não são novidade. Ocorrem, em diversos museus e galerias espalhados pelo mundo, lamentavelmente.
Não discutimos a importância das manifestações, do ativismo – principalmente em relação às questões climáticas – uma ferida que precisa ser tratada urgentemente.
Mas qual a relação com a arte? Por que os ativistas colocam obras-primas como alvos de suas manifestações?
Primeiramente porque muitas indústrias e empresas patrocinam museus e a preservação de suas obras, destinando verbas para manutenção deles. Segundo, porque ao atingirem obras tão importantes e valiosas, conseguem atrair os olhares do mundo para suas ações de protesto.
O que muitos ignoram é que há verbas destinadas exclusivamente para a cultura como também para outras áreas, seja no setor privado ou público, e que o direcionamento delas muitas vezes são desviadas segundo os interesses políticos e pessoais.
Como nos toca e sensibiliza, positivamente, vermos jovens engajados em causas tão importantes para a humanidade, lutando por um planeta sadio e um futuro melhor, no entanto, causa-nos tristeza que seus alvos sejam obras que têm o mesmo fim: melhorar o ser humano. Evidentemente que é esse o objetivo, pois ferindo a arte, fere-se o homem. Não há outras possibilidades? Porque danificar a arte, apaga o que há de mais sublime na expressão humana. Por que não se manifestarem – passivamente – nas portas das fábricas, instituições governamentais e outras? Talvez porque assim não tenha a mesma repercussão na mídia.
Ações violentas contra a arte podem reforçar na mente de muitas pessoas que já desprezam a cultura, sentimentos ainda maiores de desvalorização da mesma para o ser humano. O questionamento é legítimo. Arte não é mais importante que a vida, pois que arte e vida se misturam numa coisa só. É impossível desassociá-las, uma da outra.
Quando os filósofos Alain de Botton e John Armstrong lembram “como é fácil cairmos em desespero” sem a arte, são precisos no reconhecimento de que destruir obras de arte nos lançam na escuridão. A arte nos ilumina a existência e atacá-la é privar o homem de lucidez.
Sejamos ativistas criativos e nos inspiremos em grandes obras de arte para fazermos o melhor pela humanidade.
Em tempo:
A Cia da Casa Amarela apresentará hoje (dia 22/outubro), no Sesc Catanduva, às 15:00h, dentro do projeto “Recontando Contos: Histórias com Caminhos”, o clássico “João e o Pé de Feijão: a caminho da cidade”. O evento é gratuito e acontece no Espaço de Brincar.
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