E.T. - O Extraterrestre, de Steven Spielberg, completa 40 anos

Junho passou praticamente despercebido para a data redonda de um filme que marcou época nas bilheterias: E.T. - O Extraterrestre, de Steven Spielberg. Não que o criador do cinema blockbuster com Tubarão não tivesse investido no gênero antes: Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977) partia de premissa semelhante.

Ele humanizou, deu cara ao alienígena “do bem”, o que não entusiasmou o estúdio. Spielberg não desistiu e correu atrás de outros produtores. Antes de E.T., apenas quatro filmes viraram fenômenos culturais: Tubarão (1975), Star Wars (1977), O Império Contra-Ataca (1980) e Indiana Jones (1981) – todos com as mãos de Spielberg, George Lucas ou ambos. E.T. se tornou o quinto da lista, até 1993, com Jurassic Park – filme de Spielberg.

Apesar de E.T. (1982) ser um dos filmes mais populares da história, com o tempo começou certa implicância com o caráter profundamente emotivo e infantil (no sentido de adotar a posição da criança) que, de certa forma, explica como muitos hoje o subestimam.

Spielberg sempre foi uma “criança crescida”, e seus filmes refletiam essa personalidade. Todo o ponto de vista do filme é das crianças. As câmaras filmam da altura da visão delas, e quando adultos aparecem, são vistos de baixo para cima ou com parte do corpo cortado. Aliás, E.T. foi filmado em ordem cronológica, ao contrário do que é normal, para tornar mais intensa a emoção das crianças até o clímax.

A trama é simples. Acompanha a história do menino Elliott (Henry Thomas) que encontra escondido em sua casa, com sua irmãzinha Gertie (Drew Barrymore), um extraterrestre que ficou para trás na Terra, quando sua nave partiu às pressas. Nerd curioso e amante do scifi (como Spielberg), Elliott o esconde dos adultos, impedindo que seja capturado pelo governo e vire cobaia em laboratórios. Um forte laço de amizade, até mesmo telepático, se forma entre o garoto e o E.T.

Cenas antológicas sobre o cinema se seguem, como quando o extraterrestre assiste a um filme com John Wayne na TV e, pela conexão telepática, Eliott imita a cena beijando a garota mais bonita da classe. Detalhe: o E.T. tomou umas latinhas de cerveja que encontrou na geladeira, e o garoto ficou ligeiramente bêbado... Essa cena não apareceria num filme hoje em dia.

Baixinho e atarracado, o boneco animatrônico do E.T. foi criado por Carlo Rambaldi que, seguindo as instruções do diretor, se inspirou no olhar de Einstein. Seu dedo e coração podiam brilhar, e poderes telecinéticos faziam objetos levitar, inclusive um grupo de crianças em bicicletas fugindo da CIA. A icônica cena do garoto na bike voando sob a lua cheia virou marca da Amblin.

Além da trilha sonora marcante de E.T., composta por John Williams, em 1994, o filme foi selecionado para ser preservado no National Film Registry, para obras “culturalmente significativas”.

Autor

Sid Castro
É escritor e colunista de O Regional.