E se... Parte III

Esse é um tema fascinante e, é pouco provável encontrar alguém que não tenha empregado o “se” para lamentar uma medida ou decisão errada tomada em algum momento ou mesmo diante de uma situação embaraçosa que comumente surge no dia a dia. Na verdade, a indecisão é irmã gêmea do “se” e prima de primeiro grau da insegurança.  O vocábulo "se", como já se escreveu no primeiro artigo da série, pode ter várias funções gramaticais, como pronome, conjunção, partícula apassivadora, índice de indeterminação do sujeito e outras. O “se” está presente em todas as línguas, podendo ter diferentes grafias, mas o sentido é sempre o mesmo. Em inglês é “if”; em italiano e esperanto é igual ao português; em espanhol se grafa “si” e, em alemão se escreve “wenn”, para citar algumas. Na verdade o “se”, quando empregado acertadamente antes, pode evitar o que invariavelmente de ruim pode vir a acontecer depois, mas nem sempre isso é possível, não é mesmo? Quantas vezes você tomou uma decisão ou fez algo ignorando aquela vozinha interior do instinto que cada um tem dentro de si, e que sempre diz – isso vai dar errado! E, não é que dá mesmo?  Quantas vezes você já se perguntou – e, se eu não tivesse deixado passar na porta aquele único cavalo arriado ou aquele bonde da oportunidade que me levaria a conhecer outro universo profissional, outros mundos, outras gentes, enfim ser diferente do que eu sou hoje? Como será que seria? E, se você, assim como muitos, não tivesse puxado aquela cola escondida embaixo da carteira ou no meio do livro (quem um dia não fez isso?), que foi imprescindível para aprovação naquela matéria chata que nunca teve importância na sua vida? E, se você não tivesse perdido o contato com os amigos de infância e de escola? Quantos eles seriam hoje? Estão todos vivos? E, se fosse possível você realizar de verdade apenas um dos sonhos dos últimos cinco anos, qual seria o escolhido? E, se você fosse levado para aquela ilha da fantasia retratada na série do mesmo nome da década de setenta (era estrelada por Ricardo Montalbán e Hervé Villechaize-Tattoo), qual fantasia iria querer realizar? E, se num sonho fosse dado a você a oportunidade de conhecer os cinco números que seriam sorteados na mega sena que, devidamente anotados ao acordar, por esquecimento não seriam apostados? Como reagiria? E, se você, junto com mais seis amigos fosse contemplado com um prêmio milionário da mega sena? O que isso mudaria na sua vida? E, se você tivesse escolhido outra profissão literalmente diferente da que escolheu, mas que era uma das opções aos vinte anos?  Será que você seria melhor realizado profissionalmente? E, se você tivesse corrido atrás daquele sonho de juventude e escolhido ser um profissional daquele esporte que era o seu favorito e onde era destacadamente o melhor? Teria sido um ídolo ou um atleta reconhecido no mundo esportivo? Teria ficado rico ou milionário? E, se você tivesse depositado num cofrinho ou na poupança todo o dinheiro que, ao longo da vida, destinou a comprar rifas, bilhetes, jogos da mega, loto, saúde cap e tantos outros? Quanto será que teria hoje? E, se por um momento você pudesse ser um governante de prestígio (presidente, governador, prefeito), com direito à apenas uma canetada.  Qual medida tomaria? E, se você, por ser “amigo do rei” (leia-se presidente), como muitos que foram nomeados, fosse indicado para ser ministro mesmo da pasta “MINISPONE” (Ministério de Porcaria Nenhuma), ou ser presidente de uma estatal federal? Como você se sentiria? E, se você fosse abordado por um “ET” convidando-o para dar um passeio na sua nave. Você aceitaria? O que você perguntaria a ele?  E, se você pudesse ouvir sua voz interior, o que você acha que ela iria lhe perguntar? E, se você pudesse entrevistar você mesmo, porém, com a idade de oito anos. O que você perguntaria a você então menino? E, se fosse possível você voltar no tempo por uma hora. Que momento você escolheria reviver? E, se você fosse contemplado com um sorteio que lhe permitiria conhecer qualquer celebridade do mundo. Quem você escolheria conhecer? E, se você recebesse uma mensagem da morte informando o dia e a hora da sua partida, isso em menos de dois dias, mas você teria a opção nesse tempo de indicar um substituto. Quem você indicaria? Seu pior inimigo? Um político ou governante? (só um? ops!) E, se existisse uma linha tipo DDC-discagem direta ao céu, e você tivesse a oportunidade de escolher falar com um único antepassado – ente querido ou pessoa amiga. Quem você escolheria? Como se vê o “se” (o pleonasmo é proposital!) permite imaginar um universo de perguntas e divagar por situações inimagináveis. Mas, o importante é não esquecer que ele é melhor empregado como pronome na condicional. Nessa condição, quando bem e acertadamente utilizado, pode ter impacto positivo na vida das pessoas. Então, é sempre melhor usar o “se” antes do que depois. N.R. Este é o artigo de número 499, publicado no “O Regional”. O próximo, logicamente será histórico.                  

Autor

José Carlos Buch
É advogado e articulista de O Regional.