E a vida? O que é, meu irmão?

“E a vida? Ela é maravilha ou sofrimento? Ela é alegria ou lamento? O que é? O que é, meu irmão?”

Gonzaguinha, compositor e músico (1945-1991)

 

Fechamos 2022 com uma lista de perdas doídas, sentidas e com uma sensação de que uma parte de nós se foi com essas grandes personalidades que voaram...

Em meio as incertezas e esperanças do ano novo, janeiro já nos trouxe mais perdas incríveis. Logicamente que toda perda dói. São quantos anônimos, todos os dias? Todavia, as pessoas públicas nos impactam com um despertar um olhar mais lúcido e preciso sobre a imprevisão da própria existência.

O grande questionamento filosófico que perdura durante séculos ainda cutuca, lateja, consome e provoca: “De onde viemos? Para onde vamos? Qual o sentido da vida?”

Pois essas indagações que nos permitem continuar. A busca é a grande batalha!

Sempre dizemos ao nosso filho e alunos que as perguntas sempre nos levarão a algum lugar, qualquer lugar. Respostas prontas, formatadas, na maioria das vezes não nos permitem crescer. O aluno que recebe tudo mastigado dificilmente compreenderá a matéria. Provavelmente esquecerá em minutos o que supostamente aprendeu. A vida não é diferente.

Se a lenda do rock, o guitarrista Jeff Beck, morreu numa idade já mais natural (78 anos) e cabível, por outro lado o impacto da partida de Lisa Marie Presley, filha do eterno rei do rock Elvis Presley, aos 54 anos, nos faz pensar e refletir com o saudoso Gonzaguinha (como faz falta!): “o que é a vida, meu irmão?”

Independente da crença de cada um – nós, Drika e Carlinhos, somos espiritualistas e reencarnacionistas –, há um desassossego habitual quanto ao finitude da existência humana, porque temos sonhos. Alguns até tentam justificar a ausência de projetos na vida exatamente porque não sabe o que será dia de amanhã.

O carpe diem ou “aproveita o dia, vamos aproveitar o máximo o momento”, do poeta romano Horácio (65 a.C. — 8 a.C.), “porque não se pode confiar no amanhã” transformou-se na sociedade da ideologia niilista, literalmente um nada. Nada se espera, nada se constrói.

Felizmente temos a Arte a nos curar, salvar e dar sentido à existência!

Se conhecemos a história, os homens, as ideias e ideais é graças a Arte que as registrou, porque o artista, inconscientemente ou não, tem o sentido da imortalidade, a sensação de infinito no seu íntimo e sabe que “somos nós que fazemos a vida, como der, ou puder, ou quiser”, como sabiamente pontou Gonzaguinha em seu clássico imortal “O que é, o que é?”.

Adultos olham para as novas gerações com o pré-conceito de que desses jovens não se espera nada. Dê-lhes sentido à vida, mostre que vale cada minuto enriquecendo a mente e o coração com ideias edificantes, criativas e positivas; permita-lhes que enxerguem possibilidades de renovação, transformação, reconstrução, reinvenção e a vida terá outro vigor, outra vibração e uma nova luz!

Por isso a Arte diferencia as pessoas que têm contato com ela, profissionalmente ou não. Porque ela acende uma visão mais ampla da vida e, não importe quanto ela dure, terá valido a pena, terá sentido.

Quando alguém parte da vida assim tão jovem, após uma jornada de vitórias, quedas, enganos, hesitações, sonhos, frustrações e realizações, com toda intensidade que a vida merece, há uma sensação de missão cumprida, por mais dolorido que seja.

Costumamos afirmar que toda vida, cada existência, pode ser transformada num romance, numa poesia, numa peça teatral, numa escultura, pintura ou música. Basta ter alma para sentir o quando a vida “é bonita, é bonita e é bonita”!

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.