Duas visões para o futuro

Ninguém tem bola de cristal. Mas presto muita atenção em quem é visionário e que considero à frente de seu tempo. Cito dois cenários traçados para o pós-pandemia. 

O primeiro está num livro lançado no Brasil, cujo autor acompanho há tempos. É de Fareed Zakaria, tem a minha idade, 58 anos. Doutor em ciências políticas pela Universidade de Harvard (EUA), colunista do Washington Post (o segundo jornal mais importante do mundo) e apresentador na rede de TV CNN internacional, onde o acompanho toda semana.

No livro 'Dez lições para o mundo pós-pandemia', ele chega às seguintes conclusões: 1 – o mundo evoluiu muito tecnologicamente, mas, velhos problemas como a pobreza, continuam iguais. 2 – Direita ou esquerda são ideologias ultrapassadas. Os governos gastam bastante e mal. 3 – O mercado não resolve tudo. O governo tem que fazer sua parte. Exemplos são a provisão de vacinas, apoio a desempregados e assistência médica. 4 – Os especialistas têm que se comunicar melhor com a sociedade, mesmo quando o governante é ignorante e refratário à ciência. Estes, por puro populismo, sempre combaterão a ciência em nome de uma identidade política. 5 – O trabalho digital nos conectará cada vez mais com nossos lares. 6 – O convívio humano é fundamental. 7 – A desigualdade econômica entre os países e entre empresas aumentará bastante. 8 – A globalização não morreu. Apenas mudou de forma. 9 – A nova guerra fria será diferente. Os Estados Unidos e a China, apesar de inimigos, estão profundamente integrados economicamente. A disputa será no campo comercial e não militar. 10 – A pandemia abre caminho para a ideia de que se todos cooperarem, todos terão mais ganhos. 

O segundo é um velho ídolo meu. Bill Gates. 65 anos. É o autor do melhor discurso de formatura que já li. Escreveu 'Estrada para o futuro', de 1995. Neste livro ele já antecipava muitas transformações que aconteceram nos anos seguintes. Recentemente gravou um podcast onde relata sete tendências para o pós-pandemia. Algumas, coincidem com as de Zakaria. São elas: 1 – Reuniões on-line serão normalizadas. 2 – Devido ao aumento da demanda, os programas de computador melhorarão bastante. 3 – As empresas precisarão cada vez menos de escritórios. 4 – Morar será diferente. Ter uma boa internet será mais importante do que morar num lugar caro. 5 – As pessoas se socializarão mais na comunidade e menos no trabalho. 6 – Ninguém estará a salvo enquanto a maioria da população da Terra não for vacinada. 7 – Da pior maneira possível, a raça humana está aprendendo a lidar com uma pandemia. Será um aprendizado para a próxima. 

De qualquer forma, para o pós-pandemia, lanço mão de uma frase de Peter Drucker que sempre me inspirou: “a melhor forma de prever o futuro é criá-lo”. Temos muito trabalho pela frente.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.