Domingos Borges da Costa (I)

Pesquisando sobre a vida de Domingos Borges da Costa em vários arquivos pessoais, bem como no acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino, utilizei como peça chave para a escrita deste material, um livro de pesquisa escrito pelo Monsenhor Victor Rodrigues de Assis, que retrata, de forma bem espontânea e detalhada, vários aspectos da vida de Domingos Borges da Costa.

O autor, na preparação dessas anotações, conforme ele mesmo informa, entrevistou várias pessoas da família do Minguta. Além disso, também deixou algumas anotações de consulta na Revista Feiticeira, ano VII, Nº XXX, de setembro de 1971, página 10 e na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, editada pelo IBGE, em 04 de setembro de 1959, volume 28.

De acordo com o professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli, “(...) toda a transcrição do boletim foi reproduzida de uma pequena caderneta que ficou de posse de um parente do Monsenhor Victor Rodrigues de Assis – o Dr. Luciano Rodrigues de Assis, que fez um xerox da original e, através do Sr. Nelson Bassanetti, em abril de 2008, fez doação ao Museu Padre Albino”.

Vale destacar que Monsenhor Victor Rodrigues de Assis é autor do livro Monsenhor Albino Alves da Cunha e Silva – Apóstolo da Caridade, lançado em 1968, que traz muitas informações e curiosidades de uma das figuras mais ilustres que Catanduva teve o prazer de conhecer.

Nascimento e morte

Nascido em Lambari, Estado de Minas Gerais, em 03 de dezembro de 1847, justamente 100 anos após a vinda de seu trisavô Antônio Borges da Costa, marido de Maria Gonçalves, sua trisavó, filho legítimo de Francisco Borges da Costa e de Ana Flausina da Silva.

Sua morte ocorreu em 06 de setembro de 1921, o seu corpo foi o primeiro a ser enterrado no Cemitério Nossa Senhora do Carmo.

Antes desse cemitério ser construído, Minguta colaborou para a construção de um primitivo cemitério que existira em Catanduva. O referido cemitério de Catanduva, naquele tempo Cerradinho, estava localizado perto da atual Matriz de São Domingos, numa área onde hoje temos a esquina das ruas Brasil e Recife.

Depois, foi construído o segundo cemitério no Bairro São Francisco, ao leste da cidade, no local onde hoje é cortado pelas ruas Bebedouro e Piauí.

O terceiro, que é o atual, está ao Noroeste da cidade, ladeado pela Rua 24 de Fevereiro e pela rua Cuiabá.

Neste cemitério, o primeiro defunto ali sepultado foi o Minguta, na Quadra 9 e túmulo Nº 1.

Quem se penetra ali, logo que passa o portão, olhando para o lado direito de quem entra, vê uma pequena cruz encimando um túmulo, à distância de uns 70 metros ou 80 metros mais ou menos distante do portão de entrada. Ali estão os restos mortais do humilde, rústico e grande homem Domingos Borges da Costa, conhecido por todos pelo apelido de Minguta.

O seu enterro foi muito concorrido. Grande massa de povo acompanhou o seu cadáver até a sepultura. Ao baixar o féretro à tumba, usou da palavra o Dr. Renato Bueno Neto, que, com suas palavras comovedoras, traçou o perfil do grande morto. Isso aconteceu no dia 06 de setembro de 1921.

Entretanto, 50 anos depois, morreu o Dr. Renato Bueno Neto, no dia 24 de fevereiro de 1970 e foi sepultado no mesmo lugar onde, em pé, discursara diante do cadáver do Minguta, em 06 de setembro de 1921. Seu túmulo está na quadra 5, nº 195, distando apenas 2 ou 3 metros longe do túmulo do Minguta.

Vindo de Minas Gerais

Um belo dia, lá pelo final do século XIX (1885), Domingos Borges da Costa e seu irmão Alarino Borges da Costa resolveram deixar Lambari – sua terra natal, no sul de Minas Gerais e embrenharam-se num outro sertão do Estado de São Paulo – no oeste paulista. Isso, antes de 1900, certamente 1895, talvez, 1885.

Seja como for, pelos fatos ocorridos, a conjectura ou cálculos só têm que produzir esta data. Não sabemos se os dois irmãos Domingos Borges da Costa e Alarino Borges da Costa se estabeleceram em outros lugares no Estado de São Paulo, antes de virem para Catanduva, que naquela época se denominava Cerradinho.

O fato é que quando o Exmo. E Revmo. Monsenhor Albino Alves da Cunha e Silva – o célebre Padre Albino de Catanduva – tomou posse da Paróquia, sendo seu segundo vigário, porque o primeiro foi o Sr. Cônego Maurício Caputo, ainda em 1918, ainda havia a casinha de sapé bem no largo da pobre igrejinha e o Minguta já se achava ali radicado.

O Minguta

Domingos Borges da Costa – o célebre e gigante Minguta – caboclo mineiro de Lambari, o homem que nunca calçou um par de sapatos, às vezes usava sandálias feitas por ele mesmo. Não usava também paletó e muito menos gravata. Morava no seu sítio pegado ao pequeno lugar Cerradinho, atual e bela cidade de Catanduva. Este sítio, ou melhor, sua casa de pau-a-pique, perto do córrego Minguta, no final das ruas Terezina e Manaus. Seu sítio começava ali e se estendia ao oeste do vilarejo, atingindo a atual rodovia asfaltada, tanto a que dá acesso para São Paulo, como a que dá entrada para Catanduva para os que vem de São José do Rio Preto.

O Minguta goza de três distinções em Catanduva: 1º - Deu-se, ao regato que lhe cortava o sítio o nome de Córrego Minguta; 2º - Levantaram uma bela estátua à beira deste córrego; 3º - Deu-se o nome de Praça Minguta ao largo que fica na frente do Colégião e do Colégio Ressurreição Catanduva.

Tinha o seu carro de bois e ele mesmo era o carreiro. Tinha o monjolo conforme o costume dois mineiros. Tinha moinho, engenho, olaria, vacas de leite. Montou olaria com a finalidade única de fornecer tijolos para a construção da Igreja Matriz de São Domingos. As pedras do alicerce da matriz de Catanduva foram todas transportadas no seu carro de bois. (Continua na semana que vem)

Fotos:

Foto clássica do Minguta, de corpo inteiro encostado um uma cadeira. Teve uma vida simples e destaque na foto por estar descalço

Túmulo onde está enterrado Domingos Borges da Costa, no Cemitério Nossa Senhora do Carmo. Contém a seguinte inscrição: “Eis o jazigo de Domingos Borges da Costa, nascido a 3 de dezembro de 1847, falecido a 06 de setembro de 1921. Um dos fundadores de Catanduva. Querido por suas escelentes (linguagem da época) virtudes. Ao Minguta, uma pequena homenagem do povo de Catanduva”

Estátua do Minguta de autoria do escultor Itamar Maurutto, localizada em uma pequena praça na Avenida José Nelson Machado, próximo ao restaurante La Buca Italiana

Monsenhor Victor Rodrigues de Assis foi grande pesquisador e historiador cuidadoso, pesquisando sobre figuras históricas pessoais, como Padre Albino e Domingos Borges da Costa, bem como a história de São José do Rio Preto e da história da Igreja. Nesta foto, Monsenhor Victor no ano de 1945

 

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.