Do que gostam?

Lembro-me do dia em que cheguei em casa com o álbum dos “Embalos de Sábado à Noite”, trilha sonora marcada pela participação do Bee Gees. Era 1978 e o ritmo da moda era a discoteca. Um amigo da família olhou, fez uma cara de desprezo e soltou: “bom mesmo era o Vicente Celestino”. Eu tinha 14 anos e isto marcou-me para sempre. Desde então, procuro me atualizar com o que tem de novo na música. No Brasil e no mundo. Para não ser o “tiozão” saudosista que renega as novidades.

Digo isto porque acabei de ler sobre a preferência musical do brasileiro. A pesquisa foi feita entre jovens de 15 a 29 anos e estes podiam assinalar mais de um ritmo. O sertanejo é o ritmo favorito de 30% do público em geral, não importa a raça ou a renda familiar. É o preferido entre as mulheres (35%) e o terceiro entre os homens (25%). Possivelmente é consequência do feminejo. É notória a ascensão das cantoras no segmento e das letras que falam de assuntos do universo feminino. Este estilo musical se modernizou nos últimos 40 anos. O sertanejo transpôs a divisão entre o rural, seu nicho original, e o urbano, onde predomina atualmente, apesar de alguma resistência entre públicos específicos.

A juventude tem menos preconceito com novos ritmos. As tribos musicais já não são mais nítidas nem caricatas. Um jovem hoje pode gostar de diversos estilos, por vezes bem diferentes e distantes. O consumo musical não pode mais ser carimbado como sendo exclusivo de um recorte da população. Ainda que a música religiosa se atenha a grupos específicos, isto não é a regra.

Em segundo lugar, empatados com 24% cada, vem o Funk, o Pop, o Rap/Hip Hop. Este conjunto heterogêneo de estilos musicais nem sempre é distinguível um do outro. Tal qual o sertanejo, surgiram de um nicho específico, a periferia das grandes cidades, e transpuseram barreiras ganhando o grande público. Exemplo disso é a cantora Anitta que é atualmente uma das artistas brasileiras mais conhecidas no exterior.

O velho rock resiste. É o sexto estilo com 19%, atrás do pagode com 21%. O curioso é a quantidade de rock “antigo” sendo consumido. Um palpite sobre o fenômeno é que o rock clássico é uma música de contestação e o rock moderno perdeu esta “pegada” ficando mais próximo do Pop “careta” e conservador. No Brasil, este papel, o de contestação, foi substituído inicialmente pelo Funk e atualmente pelo Rap.

Seguem a fila a MPB (16%), Gospel (12%), Eletrônica (11%), Samba (10%) e o Forró (9%). É curioso observar que estes estilos ainda encontram adeptos no público jovem. Ainda que do jeito deles: ouvindo cada música por 30 segundos e mudando para a próxima. Os da minha geração podem fazer torcer o nariz para os números apresentados acima. Mas como diria um antigo apresentador de TV (Bolinha): “É disso que o povo gosta”!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.