Do arremesso ao chute
Há momentos em que o tempo parece dobrar sobre si mesmo — o presente se entrelaça ao passado de maneira tão sutil e intensa que o coração se confunde entre o que é lembrança e o que é realidade. Foi assim que me senti ao ver meu neto jogando sua primeira partida no Campeonato Paulista de Futebol. Lá estava ele, com aquele brilho nos olhos, aquela concentração firme, os movimentos rápidos e decididos. E, de repente, eu não era apenas a avó torcendo na arquibancada. Eu era também aquela jovem de uniforme do Clube Recreativo Higienópolis, suando na quadra, disputando o Campeonato Paulista de Basquete com toda a garra do mundo.
Ver meu neto em ação é como revisitar uma parte de mim que nunca deixou de existir — aquela que conhecia a força da equipe, o sabor da superação, o frio na barriga antes do apito inicial. Cada drible dele ecoa o som da minha própria juventude. Cada gol marcado traz de volta a emoção de quando eu lutava pelo meu time, pela minha paixão, pela honra de estar ali.
É uma sensação poderosa, que mistura orgulho com nostalgia, alegria com reverência. Porque não é apenas o talento dele que me emociona — é a continuidade de uma história. É ver que aquilo que me formou, que me deu força e disciplina, agora pulsa no sangue dele. É perceber que, de alguma forma, aquilo que fomos ainda vive no que eles estão se tornando.
O esporte tem esse poder: ele atravessa gerações. Não apenas como prática física, mas como herança afetiva, como valor compartilhado. Ao vê-lo jogar, percebi que algo de mim vive nele — não apenas no sangue, mas no espírito competitivo, na entrega, na emoção de vestir uma camisa e lutar por um time.
E, ali, enquanto a bola quica e a partida acontece, meu coração bate forte por ele — mas também por mim. Pela menina que fui, pela mulher que me tornei, e pela avó que vibra, se emociona e agradece por viver esse momento.
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