Dizer Adeus

Por dificuldade em lidar com o assunto, pensar a morte não é uma tarefa natural mesmo sabendo que um dia estaremos nesta situação.

Diante da morte ficamos com dificuldade de entende-la em sua dimensão existencial e nos deparamos com a triste situação que não conviveremos mais com a pessoa que se foi.

Sempre que pensamos neste assunto nos vemos como espectadores fora da cena e isto acontece porque não temos a experiência da própria morte o que torna difícil termos uma memória dela.

Como a oposição entre representações é um atributo do processo secundário, ou seja, do sistema pré-consciente, do ego, não pode haver no inconsciente uma representação daquilo que ainda não vivemos: para o inconsciente somos imortais.

Os rituais fúnebres independente da cultura e religião ajudam a criar sentido diante da perda e no processo de simbolização que é tão importante para ressignificarmos a memória de quem se foi. O caráter expressivo dos rituais nos possibilita descrever o que não conseguimos expressar em palavras: atenuam o medo, e desempenham importante função diante da perda e da própria desintegração do “eu”, ou seja, de como ficamos diante da morte do outro.

Elisabeth Kübler Ross foi uma importante psiquiatra Suíça que em sua obra “Sobre a morte e o morrer” formulou cinco fases do luto: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Tais fases representam reações psíquicas do indivíduo enlutado diante da perda/morte.

A morte de alguém importante para nós leva junto várias experiências que estão conectadas entre si: uma viagem, uma reunião familiar, um esporte, um show, uma música, a infância, enfim, são várias as coisas que se vão com a morte de alguém, ficando somente as lembranças.

Para vivenciar a perda é extremamente importante ritualizar o processo diante daquilo que temos que aceitar: os rituais nos possibilitam simbolizar, abrindo espaço para entrarmos em contato com uma nova maneira de se conectar com quem morreu, facilitando criar um sentido para a perda.

Freud dizia: “Se quiseres suportar a vida fica pronto para aceitar a morte”. Esta frase nos faz pensar o quanto a morte deveria ser uma construção do processo de vida, que enquanto negamos pensar, talvez não abrimos espaço para viver a vida em seu sentido pleno para acolher a morte seja no dia em que ela resolver chegar.

Em tempo, este texto foi escrito ao som da música “Amor de Índio” com Milton Nascimento.

 

Foto de Renato F. de Araujo @renatorock1

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br | Foto: Renato F. de Araujo @renatorock1 ©