Dívida pública no seu bolso

Os precatórios representam dívidas que a União, estados e municípios devem a cidadãos ou empresas após decisões judiciais definitivas. Quando uma pessoa ou entidade ganha uma ação contra o poder público, o valor devido é inscrito como precatório, sendo pago conforme a ordem cronológica de apresentação e a disponibilidade orçamentária. No entanto, o atraso no pagamento dessas dívidas tem gerado uma série de implicações negativas para o desenvolvimento econômico e social de estados e municípios. 

Desde a promulgação da Emenda Constitucional nº 62, de 2009, os precatórios passaram a seguir um regime especial de pagamento, permitindo que os entes federativos alongassem o prazo de quitação das dívidas. Ainda assim, muitos governos enfrentam dificuldades em cumprir esses prazos, resultando em atrasos que podem se estender por anos. O impacto desses atrasos é profundo e multifacetado. 

Do ponto de vista econômico, o acúmulo de precatórios representa uma significativa retração de recursos financeiros que poderiam ser injetados na economia local. Empresas que aguardam o recebimento desses valores veem-se impedidas de investir, contratar novos funcionários ou mesmo manter suas operações em dia. Esse cenário contribui para um ambiente de negócios instável e menos atraente para novos investimentos. 

No aspecto social, os precatórios têm um papel crucial. Muitos dos beneficiários dessas dívidas são cidadãos que buscam indenizações por danos morais, materiais ou até mesmo por questões trabalhistas. O atraso no pagamento pode agravar situações de vulnerabilidade social, já que esses valores muitas vezes representam a única fonte de recurso para famílias que já estão em dificuldades. Assim, a morosidade no pagamento de precatórios pode perpetuar ciclos de pobreza e exclusão social. 

A gestão dos precatórios também impacta diretamente as finanças públicas. Governos que não conseguem organizar seu orçamento de maneira eficiente para incluir o pagamento dessas dívidas acabam por enfrentar maiores dificuldades fiscais, recorrendo a soluções paliativas que não resolvem o problema a longo prazo. A recente Emenda Constitucional nº 113, de 2021, que altera as regras de pagamento de precatórios, busca trazer um alívio temporário, mas especialistas apontam que medidas estruturais mais profundas são necessárias para garantir a sustentabilidade financeira dos entes federativos. 

Outro ponto crucial é a desvalorização dos direitos dos credores. Quando o pagamento de precatórios é postergado indefinidamente, o valor real das dívidas tende a ser corroído pela inflação, resultando em uma significativa perda de poder aquisitivo para os credores. Esse fenômeno não só prejudica aqueles que esperam pelo pagamento, mas também desestimula a luta por direitos via judicial, visto que a demora e a incerteza do recebimento tornam a busca por justiça menos eficaz. 

Para mitigar esses impactos, é fundamental que os governos implementem políticas fiscais responsáveis e previsíveis, que incluam o pagamento de precatórios como prioridade no orçamento. Transparência e gestão eficiente são essenciais para restabelecer a confiança dos credores e promover um ambiente econômico mais estável. 

Em suma, os precatórios, quando não pagos em tempo hábil, constituem um freio significativo no desenvolvimento econômico e social. A resolução desse problema passa pela combinação de responsabilidade fiscal, compromisso com a justiça e a criação de um ambiente favorável ao investimento e ao crescimento econômico. Somente assim será possível transformar os precatórios de um problema crônico em uma questão administrável, contribuindo para um desenvolvimento mais equitativo e sustentável.

Autor

Jaquelini Cristina de Godeis
Advogada. Ex-Assistente Especial da Assembleia Legislativa de São Paulo. Especializada em Direito de Família e Sucessões. Pós-Graduanda em Direito Contratual pela PUC-SP e Mestranda em Direito Público.