Direita e Esquerda, sem ofensas

Semana passada, participei de uma conversa com alunos do Ensino Médio. Eu estava lá para falar sobre qualquer assunto eventualmente proposto. Por mim, sinceramente, falaria da praticidade da metafísica ou de ética elementar, mas eles próprios (ao menos a maioria, digo) puxaram a prosa para a política. Durante mais de duas horas, o papo foi sobre a situação sócio-política do Brasil desde as já agora históricas Manifestações de 2013, aquelas do “não são só 20 centavos” misturado com “o gigante acordou!”. Deitados eternamente em berço esplendido, já faz 10 anos desde que as multidões foram às ruas e hoje a tarifa do ônibus na capital paulista está consideravelmente mais cara: R$ 4,40.

Mais do que debater aspectos da política do dia, a mais banal, nos centramos em conversar sobre as diferenças básicas entre Direita e Esquerda, que à época das Manifestações estavam ideologicamente inominadas e mais ou menos ocultas sob os dísticos gastronômicos de “coxinha” e “mortadela”. Lembram? Pois já faz uma década, repito. Já faz uma década e agora as nomenclaturas estão bem mais claras.

Vou gastar os próximos parágrafos apenas explicando o que se pode entender por Direita e por Esquerda. Sem aprofundamentos teóricos, sem cronologias de evolução histórica. Apenas os princípios e valores, brutos. Ah, e sem ofensas. Educadamente.

A Direita acredita no bem-estar humano e na fraternidade geral. Acredita nos avanços sociais e na distribuição das riquezas. Todavia, seu conceito de progresso está centrado na idéia de que a Liberdade é o principal veículo da prosperidade. Daí, sua concepção de sociedade ideal está baseada na capacidade individual. O indivíduo é o motor que impulsiona a marcha da história: um punhado de homens visionários tem idéias inovadoras e as transformam em ativo para o resto da humanidade, beneficiada pelo gênio dos visionários. Politicamente, isso gera o Liberalismo Político. Economicamente, o Liberalismo Econômico -- o Capitalismo, se tudo se resumir à questão socio-econômica. O Estado participa do processo, mas de maneira mais restrita. A primazia é das forças sociais auto-gestionadas.

A Esquerda acredita no bem-estar humano e na fraternidade geral. Acredita nos avanços sociais e na distribuição das riquezas. No entanto, sua concepção de progresso está centrada na idéia de que apenas a Igualdade pode criar prosperidade. Nestes termos, sua concepção de sociedade ideal está baseada na capacidade coletiva. O conjunto das forças sociais é que propulsiona o caminhar da história: o todo de homens, em todas as condições, mas sobretudo aqueles alocados nas posições mais basais do trabalho, é que de fato modifica positivamente a realidade em favor da humanidade. Politicamente, isso gera o Socialismo Político. Economicamente, o Socialismo Econômico. O Estado é o artífice de todo o processo, restringindo a liberdade individual (geralmente, quanto ao lucro). O primado é das forças estatais gestoras.

Entre Direita e Esquerda, obviamente, há um imenso dégradé que vai de um extremo a outro extremo, entre visões mais moderadas e tantas e inúmeras vezes remodeladas. Não é tudo tão simples...

A molecada perguntou minha opinião. Quer dizer: minha eventual adesão. Primeiro, como bom conservador, finquei a opinião de Churchill: “O vício inerente ao capitalismo é a distribuição desigual de benesses; o do socialismo é a distribuição por igual das misérias.” Depois, também como bom libertário, veio o golpe de misericórdia de Stanislaw Ponte Preta: “Capitalismo é a exploração do homem pelo homem. O Socialismo é o contrário.”

Não é tudo tão simples...

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor