Diálogo sem fim

Não. Você não tem que ter sempre e só e apenas “papos inteligentes” com quem ama.

Nem só de tiradas geniais e frases de efeito que impressionam a audiência (nos inícios da paquera) vive um relacionamento. Namoro/noivado/casamento não é congresso de iniciação científica com carinho e erudição.

Tem que falar sobre tudo um pouco, porque a vida é, sobretudo, o pouco que sobra de tudo que encontramos no dia-a-dia da existência: falar sobre a última leitura, sobre como estava diferente o gosto do sorvete de sempre, contar piada sem graça para rir da própria falta de graça, falar “olha lá o super-homem no céu -- passou!”, narrar segundo a segundo como foram as últimas 24 horas, falar sobre o jeito esquisito do comportamento de não sei quem no trabalho, sobre o preço do shampoo de babosa e da costela premium, falar “à toa”.

Falar sobre tantas pequenas, médias e grandes coisas que fazem da rotina comum e normal de todo santo dia a coisa mais extraordinária para o amor: que fazem querer ouvir a voz do outro falando -- partilhando o som do próprio eu, compartilhando o próprio eu.

O ordinário ordena o prazer. E é a coisa mais gostosa do mundo você contar para ela uma bobagenzinha qualquer do tipo “você não sabe o que aconteceu hoje!” naquele clima confidente de Romeu e Julieta no balcão.

Papo não é tanto o tema formal quanto o conteúdo real; e não é tanto o conteúdo real quanto a intenção espiritual. Uma boa conversa diária salva qualquer relacionamento do buraco, o buraco que começa com o furinho do silêncio seco.

Sim. Papo inteligente é a gente sendo gentil e… papeando!

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor