Dia dos Médicos

Semana passada comemorou-se o dia dos médicos. Sou formado há 35 anos. Desde a faculdade eu não passo um dia sem refletir sobre o sentido da profissão, seu papel, seu lugar no mundo. A medicina tal como a conhecemos, não tem mais do que 250 anos, quando as descobertas e os avanços começaram a se acelerar. Claro que aconteceram descobertas antes disso. Mas não havia muita diferença entre a medicina praticada até o início do século 18 e a medicina de cinco mil anos atrás. Por incrível que pareça, as grandes descobertas foram inicialmente, mais simples do que imaginamos. Não pretendo esgotar a história da medicina neste artigo. Falarei de alguns dos meus heróis porque não canso de ler a respeito.

O inglês Edward Jenner descobriu a vacina contra varíola em 1796. Vacinas são o recurso da medicina que mais salvou vidas na história da humanidade. No entanto, as taxas de cobertura vacinal estão baixas e bem abaixo do que é indicado pelo Ministério da Saúde. A desculpa é a pandemia. Saúde pública não é erguer templos à doença e nem inaugurar obras inacabadas, mas sim vacinar a população, especialmente as crianças.

O húngaro Ignaz Semmelweis descobriu em 1846 que simplesmente lavar as mãos antes de lidar com as parturientes diminuía bastante a mortalidade materna. Demorou 20 anos para chegar a esta conclusão. Foi execrado e perseguido por seus pares, com medo que a novidade ameaçasse suas posições, ainda que fosse evidente o benefício aos pacientes.

A história das infecções deu uma guinada com Pasteur. A partir dos estudos do francês Louis Pasteur, publicados em 1864, o inglês Joseph Lister em 1865 começou a borrifar ácido carbólico em tudo o que tinha dentro de uma sala de cirurgia: os móveis, os instrumentos, os assistentes, no paciente e nele mesmo. Virou motivo de piada na comunidade médica local. Só que a taxa de infecção cirúrgica nos pacientes dele despencaram e as taxas de infecção dos pacientes de seus detratores atingia até 80%.

Terminarei o artigo com um médico que considero um herói nacional. Oswaldo Cruz. No lombo de uma mula, há mais de 100 anos, erradicou a dengue, a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. Nenhum médico foi tão difamado quanto ele. Fizeram a revolta da Vacina, o congresso manifestou-se contra ele. Praticamente toda a classe política da época se opôs a ele. Mesmo assim, conseguiu erradicar as doenças. Fundou o Instituto que hoje leva seu nome, a Fiocruz. Entrou para a Academia Brasileira de Letras e foi prefeito de Petrópolis. Seus inimigos foram para o ostracismo enquanto que ele entrou para a história.

Olho para o passado. Tem muito a ser feito. A saúde pública, enquanto plano de governo, autoelogio vazio e discurso de políticos, é pura obra de ficção. Mas, inspiração para trabalhar não falta. Parabéns aos médicos.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.