Dia das Mães

O lugar da mãe é sempre definido dentro de um certo contexto cultural e social. Seja em qual contexto for, a relação da mãe ou de quem cuida é considerada a base para o desenvolvimento emocional nos deixando claro o quanto este vínculo é importante para o filho se compreender, se reconhecer.

Para uma criança crescer com saúde física e emocional estará por trás alguém sustentando este crescimento, e nos modelos atuais, que exige que uma mulher seja tudo, despencam os números de nascimento ou de numerosos filhos à medida que esta mesma mulher precisa trabalhar, sustentar, cozinhar, cuidar, lavar, passar, limpar, ser compreensiva, entender, gestar, amamentar, pagar as contas, cuidar de seu marido, etc.

A dedicada mãe além de fazer tudo isto sofre com a falta de olhar do outro, e além de ter que dar conta de tudo sozinha, não sabe como mudar uma realidade imposta e sustentada por um padrão arcaico que diz “faça o que eu falo e não o que faço”, ou seja, uma pirâmide desigual que persiste, sustentada equivocadamente enquanto constatamos que os modelos de pais e mães necessitam de mudanças se pudermos repensar como e porque eles se sustentam a tanto tempo, indignos do ponto de vista humanitário.

A frase “ser mãe é padecer no paraíso” carrega em si a ideia da maternidade enquanto sacrifício, formulada por alguém desavisado ou por alguém extremamente cansada de carregar tudo nas costas e que gostaria de alguém a seu lado que pudesse “compartilhar” todas as outras tarefas para ela poder ser a mãe que deseja, uma frase que mais parece um padecimento sagrado a qual todas as mulheres deveriam se submeter para alcançar a plenitude. Será?

O dia das mães deveria servir para refletirmos sobre os papéis que estão sendo exercidos por homens e mulheres em nossa sociedade, sobretudo para podermos nos questionar até onde vai a maternidade e a paternidade, ou seja, o quanto cada papel se sustenta e contribui para o exercício do outro, porque onde existe uma mãe com sobrecarga de tarefas tem um pai fazendo menos, dando menos, sendo menos.

Diariamente escutamos em consultório pais que abandonam seus filhos, seus lares, que fazem filhos por fora, que viram as costas para as mães de seus filhos, que os esquecem, que não os visitam, que não reconhecem paternidade alegando que não queriam tê-los, que não contribuem com presença e financeiramente, que não escutam seus filhos e muitas vezes até os deserdam.

São tantas histórias que escutamos nos fazendo suspeitar de qual mãe muitos pais falam quando pensam em formar uma família? Que lugar ela vai ocupar? O que ela pensou ser ou qual papel lhe foi imposto pela ausência dele?

Por estas e outras, existem muitas mães com sobrecarga de tarefas desejando companheiros que olhem seus filhos e sua família, que compartilhem afazeres e presença.

Ao mesmo tempo ouvimos também em consultório pais que entenderam seu papel ativo 24 horas por dia, 7 dias por semana, nos dando esperança de dias melhores e o quanto é possível que exista um mundo com mais igualdade e presença.

Sempre é bom pensar que se existe uma mãe, é porque existe um pai, ou seja, uma dupla.

Por todas as mães do mundo, e por estas que fazem duplo papel, feliz dia das mães. Muitas mães carregam suas famílias nas costas e persistem heroicamente em acreditar na maternidade como um ato de amor, porque é, mas sua existência nos faz constatar com tristeza o quanto muitos pais ainda não entenderam isto.

A maternidade como um ato “quase heroico” se propagou nos fazendo crer no modelo de domínio e dominado, mas o que de fato se aplica é que uma família, seja em qual configuração for, será mantida à medida que as pessoas desenvolverem seus papéis e enquanto não se esquecerem. E enquanto existem alguns que esqueceram e esquecem seus papéis, parabéns para estas mães guerreiras, que fazendo todos os papéis dentro de sua família dão conta porque não abandonaram e terceirizaram sua função apesar de todos os atropelos e rasteiras da vida.

Música “Mama” com Spice Girls.

Foto do acervo @auguri_humanamente ©

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br