Dia das Crianças

Em nosso país faltam dias no calendário para tamanha quantidade de datas comemorativas (oficiais ou não), algumas criadas essencialmente para vender produtos. Nesse time destaca-se o Dia das Crianças que atualmente se constitui em verdadeira festa para o varejo, só perdendo para o Natal e Dia das Mães e muito diferente do propósito inicial de quando foi instituído na segunda década do século passado. Assim, em nosso país, desde o dia 12 de outubro de 1924, é comemorado o Dia das Crianças estabelecido por uma lei sancionada durante a Primeira República, no governo de Artur Bernardes. Ano que vem essa data estará completando 100 anos, também conhecida como um século. É uma das datas comemorativas mais antigas em nosso país e surgiu no ano anterior à criação do Dia Internacional da Criança, que se deu em 1º e junho de 1925, quando foi proclamado em Genebra durante a Conferência Mundial para o Bem-estar da Criança. Atualmente essa data é celebrada em mais de 90 países ao redor do mundo, mas em nenhum com o auê como é comemorado aqui. Segundo o site Mercado & Consumo, tendo como fonte a ABComm, o Dia das Crianças desse ano deve movimentar quase R$ 6 bilhões no e-commerce, com um crescimento esperado de 8% sobre o faturamento do Dia das Crianças do ano passado. Relevância para o varejo à parte, fato é que o Dia das Crianças faz lembrar a história da boneca que viajou o mundo noticiada nesta coluna em junho de 2020 e que vale a pena relembrar. – Um ano antes de sua morte, Franz Kafka, considerado pelos críticos como um dos escritores de língua alemã mais influentes do século XX (*03/07/1883, Praga, Tchéquia - +03/06/1924, Kierling, Klosterneuburg, Áustria) viveu uma experiência singular. Passeando pelo parque de Steglitz, em Berlim, encontrou uma menina chorando porque havia perdido sua boneca. Kafka ofereceu ajuda para encontrar a boneca e combinou um encontro com a menina no dia seguinte no mesmo lugar. Não tendo encontrado a boneca, ele escreveu uma carta como se fosse a boneca e leu para a garotinha quando se encontraram. A carta dizia: ´Por favor, não chore por mim, parti numa viagem para ver o mundo.´ Durante três semanas, Kafka entregou pontualmente à menina outras cartas, que narravam as peripécias da boneca em todos os cantos do mundo: Londres, Paris, Madagascar…Tudo para que a menina esquecesse a grande tristeza! Esta história foi contada para alguns jornais e inspirou um livro de Jordi Sierra i Fabra (Kafka e a Boneca Viajante), onde o escritor imagina como teriam sido as conversas e o conteúdo das cartas de Kafka. No fim, Kafka presenteou a menina com uma outra boneca. Ela era obviamente diferente da boneca original. Uma carta anexa explicava: “minhas viagens me transformaram…”. Anos depois, a garota encontrou uma carta enfiada numa abertura escondida da querida boneca substituta. O bilhete dizia: ´Tudo o que você ama, você eventualmente perderá, mas, no fim, o amor retornará em uma forma diferente”.

Autor

José Carlos Buch
É advogado e articulista de O Regional.