Dia da Pátria

O sete de setembro é uma data marcante para mim. Traz lembranças do que vivi na infância, do que estudei na adolescência e do que li na fase adulta.

Quando criança, era inescapável o desfile. Todos de uniforme, cada escola com sua fanfarra. Eu me impressionava com os instrumentos, talvez por nunca ter aprendido a tocar qualquer um deles. Tocar e marchar ao mesmo tempo? Nem pensar! No máximo, sabia a letra dos hinos. Mas eu gostava. O cortejo era bem mais simples do que eu tenho visto na televisão. Hoje tem desfile para tudo. O mais marcante dos desfiles foi o de 1972. Eu tinha oito anos. Era o Sesquicentenário da Independência. Teve um hino próprio, cantado pela imortal Ângela Maria, cuja letra lembro-me até hoje: “Marco extraordinário, sesquicentenário da Independência. Potência de amor e paz. Este Brasil faz coisas. Que ninguém imagina que faz...”. Esta música, repetida à exaustão nas rádios, caiu no gosto popular. Por causa desta data, sempre prestei atenção nas comemorações dos outros países, França e Estados Unidos por exemplo.

Veio-me à memória o quadro do artista brasileiro Pedro Américo (1843 - 1905) que fez um dos maiores quadros brasileiros (4,15 x 7,60 metros), exposto no Museu do Ipiranga em São Paulo. Este quadro de 1888 traz uma visão épica, gloriosa e triunfalista do momento da fundação do Brasil, o grito da independência, que segundo consta, teria sido "É tempo! Independência ou Morte! Estamos separados de Portugal".

Completa o cenário, o filme “Independência ou Morte”, lançado em setembro de 1972. O elenco era estelar: Tarcísio Meira, Glória Menezes, Anselmo Duarte, Emiliano Queiroz, Dionísio Azevedo, José Lewgoy, Carlos Imperial e outros. O filme trouxe uma visão bem romantizada da nossa emancipação política em relação à Portugal. No entanto, ele abordava os casos extraconjugais de Dom Pedro I. Sopesando os costumes de 50 anos atrás, é quase inacreditável a censura ter deixado passar. O filme foi o mais assistido do ano, com quase três milhões de espectadores.

Já mais adiante, li que os bastidores do movimento foram mais intensos do que aprendi na escola. Dom João VI, pai de Dom Pedro I, já tinha previsto que a independência seria inevitável e antes de ir embora, aconselhou-o a encampar o movimento. Li também que desde a Universidade de Coimbra, os estudantes de direito José Bonifácio e Gonçalves Ledo eram rivais e militavam em campos opostos. Ambos eram a favor da independência. Mas Bonifácio era a favor da monarquia e abolicionista. Gonçalves Ledo era republicano. De fato, o Brasil era o único país monarquista das Américas.

Lutas pelo poder, intrigas, traições, amantes. Dá para fazer um bom seriado. Apesar de tudo isso, são 201 anos de libertação. 523 desde a descoberta. Um país jovem. De toda forma, viva!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.