Dia da Consciência Negra
Na última quarta-feira, dia 20, comemorou-se, no Brasil, o Dia da Consciência Negra, cujo objetivo é o convite a todos para a reflexão sobre a inserção do negro dentro da sociedade brasileira.
O dia 20 de novembro foi escolhido por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, grande líder negro na época da escravidão, morto em 1695.
Apesar de pesquisas atuais levantarem dúvidas sobre o caráter de Zumbi dos Palmares, comprovando-se, por exemplo, que ele mantinha escravos particulares, o Dia da Consciência Negra procura ser uma data para se lembrar a resistência do negro à escravidão que sofria de forma geral.
O dia é celebrado desde a década de 1960, embora só tenha ampliado seus eventos nos últimos anos. Até então, o movimento negro precisava se contentar com o dia 13 de Maio, – dia da Abolição da Escravatura – comemoração que tem sido rejeitada por enfatizar muitas vezes a “generosidade” da princesa Isabel.
Catanduvense de Raça
E já que estamos falando do negro de modo geral, uma catanduvense não poderia ficar de fora de nossa lembrança: Luiza Lourenço da Cruz, mais conhecida como a Comadre Luiza.
Nascida numa senzala de açúcar na cidade de São Sebastião – RJ, no dia 24 de agosto de 1874, era filha de escravos originários da África, que quando crianças foram trazidas para o Brasil.
Como nasceu no ano de 1874, acabou se beneficiando com a Lei do Ventre Livre, promulgada em 1871.
Sete anos mais tarde, na companhia de seus pais, partiu da até então capital do país para a região de Ribeirão Preto, instalando-se em uma grande fazenda pertencente à Família Junqueira, muito influente naquela região.
Permaneceu ali por 25 anos, onde veio a conhecer João Cândido, mineiro de nascimento, também beneficiado da Lei do Ventre Livre, com quem depois de um rápido namoro veio a casar-se, concebendo, posteriormente, três filhos: João, Sebastião e Dionízio.
A caminho de Catanduva
Com a morte de seus pais, Luiza, juntamente com seu marido, começaram a procurar outro lugar para fixarem moradia. Inicialmente, de acordo com a vontade de João Cândido, optaram por terras localizadas em Minas Gerais; porém, por sugestões dos próprios patrões, reformularam a decisão e partiram rumo às terras do Sr. Antonio Maximiano Rodrigues, amigo de caça do Sr. Neca Junqueira.
Transportados pelo coronel José Pedro da Motta em um carro de bois, chegaram ao pequeno povoado de São Domingos de Cerradinho em 1907, para trabalhar na propriedade combinada. Vale destacar que Luiza aprendera a cozinhar muito bem com a esposa de Antonio Maximiano Rodrigues, Dona Francisca Salles de Jesus, que exercia bem muito essa arte.
Com o falecimento do marido, Luiza encontrou-se em situação difícil para criar e educar os filhos, que ainda eram crianças na época. Porém, Luiza não desanimou, arregaçou as mangas e trabalhou sério até o fim de sua vida.
Alegre e de bem com a vida, sempre caridosa ao extremo, Luiza integrou-se rapidamente na vida comunitária, sendo indispensável sua presença em festas, já que era uma ótima cozinheira.
Nenhum trabalho doméstico lhe era estranho, porém tinha uma grande particularidade com a cozinha e adorava as crianças, trabalhando muitas vezes como babá e ama-de-leite.
Tinha o hábito de chamar todos de “compadre” ou “comadre”, passando a ser chamada carinhosamente pelos catanduvenses de Comadre Luiza.
Uma das grandes paixões de Luiza era o carnaval. Sabendo disso, muitas de suas patroas lhe davam folgas nos dias de festa, além de emprestarem roupas e adereços carnavalescos. Foi a primeira mulher catanduvense a aparecer em público com autêntico espírito carnavalesco, em 1917, nas decoradas ruas de Vila Adolfo.
Além de grande paixão pelo carnaval, Luiza tinha outra característica marcante: sua devoção religiosa. Muitos frequentadores da Igreja Matriz de São Domingos sempre a viam ajoelhada aos pés de Nossa Senhora Aparecida, além de constantes visitas que fazia aos enfermos do Hospital Padre Albino.
Como se fosse um ritual, todos os dias Luiza ia à Estação Ferroviária para observar a movimentação dos trens. Ao pressentir a saída do trem, ajoelhava-se no chão e com as mãos erguidas e olhar fixo no céu, punha-se a orar, invocando a Deus proteção aos que se encontravam no trem.
Em 25 de abril de 1943, Catanduva perdeu um de seus cidadãos mais fantásticos e simples que já existiu por aqui. Às 16 horas da tarde, Luiza deixou este mundo vítima de um colapso cardíaco que veio a sofrer, apesar de não ter lhe faltado a devida assistência médica, sendo atendida pelo Dr. Olímpio de Carvalho.
Enterrada no túmulo 11.644 no Cemitério Municipal Nossa Senhora do Carmo, há quem acredite que por intercessão da alma bondosa e querida da “comadre” muitas bênçãos foram recebidas para eles e para seus familiares.
Milagrosa ou não, o que se tem certeza é que nossa “comadre” foi uma mulher única e especial em nossa cidade.
Fonte de Pesquisa:
- Centro Cultural e Histórico Padre Albino
Fotos:
Comadre Luiza pode ser considerada um grande ícone negro em nossa cidade. Nascida numa senzala de açúcar na cidade de São Sebastião – RJ, no dia 24 de agosto de 1874, era filha de escravos originários da África, que quando crianças foram trazidas para o Brasil
Assim como Zumbi dos Palmares representa a resistência negra durante a escravidão, a data é um marco para reafirmar a luta contínua pela igualdade racial e pelos direitos da população
O túmulo da Comadre Luiza é um dos mais visitados no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, onde muitos atribuem a ela várias graças recebidas
O dia 20 de novembro foi escolhido por coincidir com a morte do grande líder negro Zumbi dos Palmares
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