Devagar e Sempre

Nada que é bom se constrói da noite para o dia. As melhores coisas da vida exigem um considerável tempo de maturação. Dos queijos e vinhos ao caráter e à personalidade, o melhor do melhor sempre carece de tempo para evoluir, para se transformar positivamente em direção a patamares mais nobres e elevados.

Por isto, não adianta absolutamente se desesperar. Cada ente e cada ser tem seu tempo propício de melhoramento. Tocar piano com virtuosismo exige que se pratique todo dia. Cozinhar até mesmo um bom arroz com feijão, aparentemente tão simples, pede atenção rotineira. Todas as artes e engenhos humanos que se podem aperfeiçoar dependem de uma repetição contínua e perpétua. Como escreveu Plínio a respeito de Apeles, um pintor grego do século IV antes de Cristo, “nem um dia sem uma única linha”, ou seja, o trabalho não para.

Não há outra receita. Não existe outro método. Não e não! A única via para o aprimoramento encontra-se apenas na espera que trabalha com paciência e, não obstante aumentemos ou diminuamos o ritmo conforme as necessidades e vicissitudes da existência, é neste caminho de tranquilidade que poderemos produzir o nosso melhor.

A ansiedade, portanto, é inimiga mortal do crescimento humano. Impaciente por ver e deixar as coisas acontecerem conforme o ritmo que a natureza lhes dita, a inquietação faz pular os processos necessários e, assim, acaba por adiantar o fluxo do labor criativo, minando-o. Resultado: as coisas saem malfeitas, para não dizer disfuncionais. Como ensina a sabedoria caipira, “quem tem pressa, come cru.”

Se a gente se deixa levar pelos impulsos da preocupação e da inquietude, desconstruímos do dia para a noite. E aquilo que poderia ser uma obra de arte (uma façanha de apuramento, de progresso e de refinamento material e imaterial), acaba sendo uma caricatura disforme daquilo que poderíamos ter alcançado e não conseguimos simplesmente porque colocamos “a carroça na frente dos bois”.

A equação para evolver é simples e conhecida dos conselhos de nossas avozinhas: devagar e sempre!

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor