Deus existe? O homem como espelho

Toda Teologia Natural, sobretudo a cosmogônica, nasceu do senso comum. Explico: alguém olhou para si e para o mundo, reparou na complexidade dos seus processos e organizações e, então, concluiu analogicamente: se eu faço coisinhas tão simples, como um sapato com couro e linha ou uma ferradura com fogo e martelo, é muito provável que alguém tenha me feito e feito tudo aquilo que eu vejo e tudo aquilo que eu não vejo. Como você pode perceber, é uma equação de causa e efeito que está baseada no espelhamento (ou projeção) do homem sobre os demais entes e seres.

Pode parecer uma estrutura de pensamento simplista e até anti-científico, mas não é. Não é justamente porque a razão é uma capacidade humana cujas leis e validações são intrinsecamente naturais, sobretudo quando há uma estrutura universal deste espelhamento: se todo mundo se vale deste esquema de pensamento para concluir, a conclusão pode estar errada por conta de uma eventual premissa errada, mas a referida estrutura, a regra que propiciou tal conclusão, é lógica, portanto correta -- válida enquanto instrumento. Temos aqui, em breves palavras, a explicação mais simplista possível da razoabilidade de pensar por espelhamento.

Espelhar, inclusive, é um verbo que resume concisamente a expressão “imagem e semelhança” (em teologia clássica, o conceito é chamado de Imago Dei – Imagem de Deus) utilizada pelo texto do Gênesis para dizer que o Criador depositou na Criatura características suas, inconfundíveis e assim distinguíveis do resto da Criação. Resta que, em Teologia Revelada, aquela estrutura tão simples quanto antropocêntrica de olhar-e-concluir-sobre-Deus-com-base-em-mim é afirmada como verdadeira e redirecionada à elaborações e explicações bem mais densas e divinas. A partir deste ponto, a tarefa não é dada a este modesto artigo, mas às imensas bibliotecas das teologias bíblica e dogmática...

Prossigamos apenas por mais este e depois por outro pequeno parágrafo final. Um bom resumo de tudo o que escrevi logo atrás é: se você acredita ou não acredita em Deus; se você tem dúvidas cruciais sobre a intersecção humano-divino, o ponto x onde é Deus quem cria o homem ou o homem quem cria Deus; se você olha para os céus e para os animais e assiste a documentários e estuda sobre o Big Bang e sobre a Evolução e não sabe onde encaixar seu teísmo ou deísmo ou ateísmo ou agnosticismo; se você está dançando em looping infinito envolta do “ser ou não ser”, sem qualquer conclusão que não a inconclusão; vá diante de um espelho, de preferência algum que lhe revele o corpo inteiro, e pergunte:

Quem sou eu?

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor