Desenvolvimento do comércio catanduvense (I)

Um dos pontos que tem causado grandes discussões em Catanduva nos últimos dias é a questão da Área Azul, que voltou a funcionar no município de Catanduva neste ano de 2025. Os defensores da implantação, defendem que o sistema traz uma série de benefícios, como maior rotatividade de vagas, facilidade de acesso ao comércio local, organização do tráfego, incentivo ao transporte alternativo ou coletivo, entre outros. Já os que são contrários à instalação, afirmam que o sistema traz custo elevado para o cidadão, que será um sistema apenas para arrecadação, com risco de evasão para áreas não regulamentadas, gerando impacto em moradores e trabalhadores locais, bem como causando um esvaziamento do centro da cidade, onde está localizada grande quantidade de comerciantes.

Deixando de lado a questão dos que concordam ou não com a medida, um elemento é central para ambos os lados: a preocupação com o comércio local e seu constante crescimento e desenvolvimento, e é justamente sobre ele que pretendo tratar durante algumas semanas, bem como a importância da ACIC – Associação Comercial e Industrial de Catanduva, que teve grande papel para que cada vez mais nosso comércio local atingisse seu patamar elevado.

Os primórdios

Catanduva, assim como a maioria das cidades fundadas no final do século XIX e início do XX, teve sua primeira economia fundamentada na produção agrícola, no cultivo dos mais variados gêneros alimentícios, com grande destaque para o café.

Lógico que não podemos desconsiderar aqueles pequenos comerciantes que em suas vendas e quitandas, ofereciam o que era de necessidade básica para os trabalhadores da lavoura.

No início do povoado de Catanduva, alguns estabelecimentos comerciais já se faziam presentes dentro do perímetro urbano, lá pela década de 1920, lembrando que já se tinha até agência do Banco do Brasil na cidade nesta época.

Quando chegamos em 1930, o mundo todo veio a sofrer o abalo de uma das catástrofes econômicas mais avassaladoras da humanidade: a quebra da Bolsa de Valores de Nova York (em 1929), trazendo abalos de ordem mundial.

Em nossa ainda pequena cidade de Catanduva, a grande tradição agrícola sofreu grandes abalos por causa dessa crise, afetando todos os segmentos que o município já contava, como um comércio em crescimento e uma incipiente indústria.

Mesmo com todas as adversidades que o contexto vinha impondo, um grupo de homens em nossa cidade resolveu criar algo forte para que, unidos, pudessem crescer ainda mais.

Diante disso, em 10 de agosto de 1930, em uma das salas da Sociedade Italiana, ocorreu a primeira reunião da Associação Comercial e Industrial de Catanduva, com o objetivo de “(...) promover a união entre os associados de maneira a fortalecer a defesa e a conservação dos interesses das classes que representa, adotando medidas que interessem ao comércio e a indústria”.

A primeira diretoria de tal instituição foi eleita e tomou posse em 24 de agosto do mesmo ano, tendo como seu primeiro presidente a figura do comerciante Antonio Martins Duarte.

Os anos 30

Em 1930, Catanduva possuía 1.598 prédios, entre comerciais e residenciais. O prefeito da época, Sr. Adalberto Bueno Neto, vinha enfrentando os problemas econômicos que abalavam o contexto internacional, além de presenciar a época da quebra da chamada política “café-com-leite”, que teve como estopim a Revolução de 1930, onde Getúlio Vargas assumiu o poder provisório durante 15 anos.

Essa época também foi o período das grandes imigrações, que desde o fim da escravidão vinham ganhando espaço em terras brasileiras. Desses imigrantes, 57% de todos os imigrantes que chegavam ao Brasil até 1930 estabeleceram-se no Estado de São Paulo.

Diante de tal fato, fica óbvio que muitos imigrantes se deslocaram para Catanduva, ajudando a construir a cidade feitiço que conhecemos hoje.

A ACIC também teve grandes modificações nesse período: em 1935 foi adquirido terreno para a construção da sede própria, dando o lançamento da pedra fundamental dois anos mais tarde, onde Padre Albino deu sua bênção.

Nesse tempo, Catanduva não possuía muitos bairros como vemos atualmente, destacando o Centro, o São Francisco e o Higienópolis, lugar onde se fixaram muitos espanhóis.

A cidade ainda era cercada por grandes fazendas e pequenos produtores rurais, onde mão de obra nessa época correspondia a 75% de trabalhadores rurais e 25% nas demais profissões.

Porém, mesmo com essa grande diferença entre a mão de obra rural e a urbana, Catanduva fazia com que cada vez mais seu comércio ia prosperando e ganhando peso dentro da cidade.

(Continua na semana que vem...)

 

Foto: Catanduva no ano de 1925. É possível já perceber vários estabelecimentos comerciais em nossa cidade.

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.